Entre os dias 22 e 28 de abril de 2015, o Iepé realizou, com o apoio do Programa de Documentação de Acervos Culturais Indígenas do Museu do Índio/UNESCO e da Embaixada da Noruega no Brasil, a segunda oficina de sistematização da pesquisa colaborativa “Peixes, pesca e conhecimentos associados”, ministrada pela antropóloga Lux Vidal e pela cenógrafa Anne Courtois Vidal, no Museu Kuahí dos Povos Indígenas do Oiapoque (Amapá).
Voltada para a elaboração de uma publicação, uma exposição e um folder a partir dos registros e sistematização de todo material da pesquisa de campo, realizada durante os anos de 2013 e 2014 sob coordenação da antropóloga Pauline Laval, do Museu de História Natural de Paris, em todas as regiões e principais lugares de pesca das terras indígenas do Baixo Oiapoque, a oficina contou com a participação da treze membros da equipe de pesquisadores indígenas do Museu Kuahí, do líder Palikur Nilo Martiniano (funcionário da FUNAI e grande conhecedor do tema em pauta), dois estagiários Palikur (bolsistas da UNESCO/Museu do Índio que atuam no Museu), além de dois jovens da aldeia Santa Izabel, convidados a conhecer melhor o Museu e as atividades de pesquisa nele desenvolvidas. A oficina foi acompanhada também por Poena Lia de Oliveira e teve o apoio de Ana Paula Nóbrega, ambas do Iepé.
Lux Vidal iniciou as atividades relembrando como surgiu o Museu Kuahí, ressaltou que ele é referencia no cenário museológico e indigenista por ser um museu dos povos indígenas, gerenciado pelos próprios índios. Lembrou também de todo o investimento feito na formação dos funcionários indígenas do Kuahí, que já estavam sendo capacitados, em oficinas e cursos, antes mesmo das obras do Museu serem concluídas. Os participantes foram convidados a visitarem o acerco etnográfico do Museu, momento em que se abordou o papel da reserva técnica, o significado das peças e a melhor maneira de preservá-las.
Ao longo da oficina foi realizada a revisão dos textos e traduções das entrevistas produzidas e registradas em língua materna nas aldeias do Oiapoque, trabalho encaminhado pelos participantes Palikur, Karipuna e Galibi Marworno.
Durante a oficina foi realizada a produção de materiais que farão parte de uma exposição e de uma publicação, dentre eles a complementação dos calendários de pesca e dos desenhos relacionados aos peixes mais representativos da região, o encaminhamento de um trabalho mais detalhado com a produção de mapas sobre os lugares de pesca ao longo dos rios Uaçá, Urucauá, Curipi e igarapé Juminã, e dos lagos e poços espalhados na savana inundada, a análise do acervo de mais de 200 fotos realizas pela equipe do Museu Kuahí e Pauline Laval durante as viagens de pesquisa de campo e uma discussão voltada às perspectivas de organização do material para a publicação. Para a exposição foi criada pelos pesquisadores indígenas, sob orientação da cenógrafa Anne Vidal, uma instalação que consiste num mapa sobre tela de grandes dimensões dos rios que banham a região. Tendo por base o mito da cobra grande e a origem dos rios, a pintura do mapa foi criada a partir das inúmeras “marcas” tradicionais utilizadas pelos povos indígenas do Oiapoque.
A sistematização de todo esse material coletado, pesquisado e organizado pela equipe indígena do Museu Kuahí deverá resultar numa exposição e numa publicação que contará com apoio do Iepé e do Museu do Índio, no âmbito de uma parceria estabelecida entre as duas instituições para apoiar ações de formação, pesquisa e difusão de conhecimentos indígenas na região do Oiapoque. O Museu Kuahí integra as instituições participantes do Programa de Documentação de Acervos Culturais Indígenas do Museu do Índio/Unesco, que visa a documentação, a identificação, organização, salvaguarda e difusão de acervos culturais indígenas constituídos, guardados e geridos por centros de formação, de documentação e museus indígenas no Brasil.