VII Assembleia Geral da AMIM reúne mais de 120 participantes na aldeia Açaizal

data

Entre os dias 04 e 05 de setembro de 2015 a Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão – AMIM realizou, com o apoio do Iepé (em articulação com a FUNAI) sua VII Assembleia Geral e de Eleição da coordenação geral. O evento contou com mais de 120 participantes e ocorreu na aldeia Açaizal (Rio Curipi, Terra Indígena Uaçá).

IMG_3390

1º. Dia: A assembleia foi moderada por Priscila Karipuna e presidida por Creuza Maria dos Santos, coordenadora-geral da AMIM. Após a mesa de abertura as mulheres indígenas discutiram e encaminharam solicitação de apoio à Casai Oiapoque para a continuidade do projeto de transmissão dos conhecimentos sobre medicina tradicional. Irmã Rebeca e Pe. Nello falaram sobre as origens da AMIM, lembrando que as mulheres indígenas de Oiapoque estão engajadas há 35 anos através da organização do trabalho das parteiras e das reuniões apoiadas pelo CIMI e que após muitos altos e baixos da associação, hoje estão mais ativas do que nunca. A manhã do primeiro dia foi encerrada com exposição e respostas às dúvidas das participantes pelo representante do INSS sobre os benefícios aos quais as mulheres indígenas têm direito, em específico o auxílio-maternidade.

Na parte da tarde foi feita a leitura do estatuto da associação, seguida da apresentação da coordenação atual e abertura do processo de eleição do conselho geral, composto pela coordenação geral, conselho fiscal e representantes de área. Creuza Maria dos Santos e Bernadete dos Santos foram reeleitas para o próximo triênio como coordenadora-geral e vice-coordenadora, respectivamente. Priscila Karipuna e Brigele Quaresma dos Santos foram eleitas secretária e vice. Lenise Felício Batista e Jucileide Forte de Oliveira, por fim, foram escolhidas como tesoureira e vice-tesoureira. Foram selecionadas por critérios étnicos e regionais as cinco representantes do conselho fiscal e as doze representantes de área, incluindo além dos rios Curipi, Uaçá, Oiapoque, Urukauá e das aldeias da rodovia BR-156 duas representantes das mulheres indígenas que vivem na cidade de Oiapoque. Ficou decidido que Dilziane Orlando (Palikur) será a articuladora do conselho geral na cidade de Oiapoque, cargo criado nesta assembleia e que deverá ser introduzido em ocasião apropriada para a revisão do estatuto da AMIM. Foi sugerido ainda que cada aldeia indique uma ou duas mulheres para atuarem como articuladoras locais da associação.

2º. Dia: O segundo dia de assembleia foi iniciado com um culto ecumênico conduzido por Pe. Nello Ruffaldi, seguido das falas das secretárias estaduais Eclemilda Macial (SEPI) e Silvanda Duarte (SEPM). Eclemilda falou sobre os projetos de criação de uma casa de apoio aos povos indígenas em Macapá, de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e continuação da formação das parteiras indígenas. Informou que a SEPI está articulando com a SESA a criação de uma equipe de acompanhamento das questões de saúde indígena, em especial das mulheres. Silvanda falou sobre o papel da SEPM na garantia dos direitos das mulheres e da necessidade de ampliar os espaços de atuação feminina nas esferas de poder para a construção da autonomia. Reforçou a importância da capacitação de mulheres em diversas áreas de conhecimento e deu informações sobre a quarta Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, divulgando as etapas municipal, que acontece em Oiapoque no dia 16 de setembro e a etapa regional, nos dias 29 e 30 de outubro, em Macapá.

Estela Oliveira fez esclarecimentos sobre o projeto da Polícia Militar do Amapá para redução de danos por abuso de bebida alcoólica e drogas, o PROERD. Lembrou que a realização do projeto nas TIs de Oiapoque foi uma reivindicação das comunidades e das mulheres indígenas em assembleias anteriores e informou que o projeto deverá ser desenvolvido nas terras indígenas de Oiapoque e irá envolver principalmente os professores. Pe. Nello recordou as experiências realizadas com o apoio do CIMI na aldeia Manga há muitos anos para enfrentar o problema de alcoolismo, que originaram o vídeo “Morrer pela boca”. Afirmou não estar de acordo com a abordagem da polícia militar sobre o tema e sugeriu outros encaminhamentos possíveis, como a realização de mutirões de conversa.

Simone Karipuna deu informações sobre as etapas da I Conferência Nacional de Política Indigenista e falou sobre os desafios cada vez maiores da luta do movimento indígena em nível nacional.

Priscila Karipuna informou que foi indicada pela COIAB e APIB para representar as mulheres indígenas de Oiapoque no programa ONU Mulheres. Listou as linhas de trabalho com as quais a AMIM trabalha e sugeriu outras com as quais pode vir a trabalhar (Políticas públicas de saúde indígena, valorização da medicina tradicional, combate ao trafico humano, fortalecimento político do movimento de mulheres indígenas, valorização da língua materna e da produção artesanal para geração de renda).

Irmã Rebeca, Priscila e Ana Paula apresentam uma proposta discutida com a coordenação geral da AMIM, que consiste retomada das atividades de produção de artesanato e vestimentas em corte e costura como estratégia de fortalecimento da associação, através da concepção de etiquetas que auxiliem as peças produzidas a contarem a história da luta das mulheres indígenas de Oiapoque. Algumas participantes apresentam peças por elas produzidas (tapetes de retalhos, vestimentas do Turé e outras).

Intercâmbios de experiências: Durante a assembleia, mulheres de outras terras indígenas, convidadas da AMIM, apresentaram e discutiram diferentes experiências.

Ngrenhkarati Xikrin falou sobre a realização de um projeto de corte e costura no âmbito do Projeto GATI (edital microprojetos) através do qual as mulheres Xikrin da TI Trincheira Bacajá estão produzindo peças exclusivas, que vendem sob encomenda para vários lugares do Brasil. Ela falou também do difícil momento que os Xikrin estão vivendo com a implantação da usina de Belo Monte.

As participantes Wajãpi falaram sobre a confecção e venda de tipoias para carregar bebês e redes de algodão, que aprenderam a fazer com as avós, e sobre os conhecimentos das mulheres indígenas referentes à alimentação, roça e plantas medicinais. Celeide Katxuyana apresentou o projeto de arte em miçanga das mulheres Tiriyó e Katxuyana e falou do incentivo do Iepé para o resgate da língua Katxuyana. Elton Anicá (FUNAI Oiapoque) apresentou a possibilidade do SENAI apoiar os projetos das mulheres, sobretudo com formação e aquisição de maquinários. Este conjunto de falas constituiu um importante momento de troca que fortaleceu a ideia das indígenas de Oiapoque de retomar os projetos de corte e costura e de medicina tradicional como estratégias de fortalecimento da confiança das associadas na AMIM. Ficou definido que o Iepé submeteria um projeto ao Fondo Internacional de Mujeres Indígenas, vinculado à ONU, para incentivar a retomada das atividades de costura em Oiapoque.

Foi acordado pela plenária que a assembleia da AMIM será realizada anualmente no dia 05 de setembro, dia internacional da mulher indígena. No encerramento da assembleia houve um turé organizado pelo pajé Martinho, da aldeia Açaizal.

Participantes:  Além de mulheres de todas as regiões das Terras Indígenas do Oiapoque, estiveram presentes, na Assembleia, convidados: os homenageados Pe. Nello Ruffaldi e Irmã Rebeca Spires (CIMI), a administradora Lucinilma Lima (UNIFAP), que realiza trabalho voluntário de fortalecimento das organizações indígenas de Oiapoque, Fabricio Karipuna (sub-gerente do Museu Kuahí), Fernando Forte (Casai Oiapoque), caciques José Damasceno Forte Karipuna, da aldeia Açaizal, Luiz dos Santos, da aldeia Kumarumã, João Colares Narciso, da aldeia Flecha e Tiago dos Santos (CCPIO), Silney Aniká (Secretário Municipal de Assuntos Indígenas), Ana Paula Fonte, Ana Paula Nobrega, Edilza Serrano  e Jeciane Souza (Iepé), Eclemilda Macial (Secretária Extraordinária dos Povos Indígenas), Silvanda Duarte (Secretária Extraordinária de Políticas para as Mulheres), Simone Karipuna (CNPI), Estela Oliveira (coordenadora regional da FUNAI) e. Peter Frank (gerente do INSS). A assembleia contou, ainda, com convidadas indígenas, representando os povos do Amapá e Norte do Pará: Celeide Kaxuyana, Merlane Tiriyó, Arinã Wajãpi e dez mulheres Xikrin da Terra Indígena Trincheira Bacajá e suas assessoras Geni, Taís e Luciana, do projeto Menire (FUNAI Altamira), representadas por Ngrenhkarati Xikrin.

A VII Assembleia Geral da AMIM contou com apoio da Embaixada da Noruega e da RFN.

Mais
notícias