O histórico de formação dos AIS Wajãpi remete ao Programa de Saúde Wajãpi (PSW) que esteve em vigor de 1996 a 2000. Este programa, gestado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), contou com apoio financeiro do Governo do Estado do Amapá e Secretaria de Saúde e com a coordenação técnica da Dra. Maria Bittencourt. Foi no âmbito deste programa que em 1997 surgiu uma reivindicação dos Wajãpi quanto à formação de uma turma de Agentes Indígenas de Saúde. As lideranças estavam interessadas em diminuir a dependência que tinham dos não-índios em relação à assistência à saúde para que no futuro estes AIS pudessem assumir os cuidados de saúde em suas próprias comunidades.
No decorrer de 1997 foram realizadas várias discussões com as lideranças sobre o perfil destes agentes de saúde e qual seria sua atuação nas aldeias e junto aos serviços de saúde. A princípio foram escolhidos 20 jovens, sendo que 14 fariam curso para AIS e 6 seriam microscopistas. Esta lista inicial de AIS no decorrer dos cursos sofreu algumas alterações e em 2000 já se encontrava constituída tal qual como existe hoje, contando com 16 AIS Wajãpi, advindos de grupos políticos distintos. São eles: Aka´upotyr, Jamana, Karaviju, Kawãe, Wyrai, Tukuruve, Waraku, Tameri, Wyneamea, Moratu, Asurui, Patena, Paiki, Wawa, Majoware e Keremeti.
A formação propriamente dita teve início em 1998, porém foi em 1999, com a implantação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), que esta passou a ser orientada pela proposta curricular Educação Profissional Básica para Agentes Indígenas de Saúde (MS/FUNASA). Depois de um período relativo às mudanças de convênio, o PSW retoma em 2002 a formação dos AIS Wajãpi realizando até 2005 vários módulos preconizados pelo MS/FUNASA. Com o fim do PSW em 2005, o DSEI AP e Norte do Pará não consegue dar continuidade as atividades de formação, ficando dois anos sem capacitações.
Em 2007, o Iepé, atendendo a solicitações de lideranças, resolve apoiar a continuidade da formação dos AIS, contando para isso com recursos do Poema da Alemanha, da ONG Médico Internacional (MI) e do DSEI AP e Norte do Pará. Além disso, é constituída uma nova turma de 16 AIS para atuarem nas aldeias dos limites da TIW.
Depois de um longo e cuidadoso processo de negociação, em 2012 foi assinado um Termo de Cooperação entre o Iepé e o DSEI AP e Norte do Pará/SESAI de forma a institucionalizar a parceria para a certificação dos AIS e continuidade da formação dos Agentes Indígenas de Saúde Wajãpi. A partir desta cooperação foi possível somar esforços no sentido de organizar toda a documentação referente à formação desta turma de AIS veteranos e comprovar que haviam realizado todos os módulos de concentração e dispersão recomendados pelo MS.
Em janeiro, após a realização de um módulo de atualização para os AIS veteranos e um de formação para os AIS novos, foi realizado o evento da certificação dos Agentes de Saúde veteranos. Foram convidadas as famílias dos AIS, lideranças de todas as regiões da TIW, a Gestora do DSEI AP, Nilma Pureza, o Apoiador do Pólo Wajãpi Flávio Nolasco, a Secretária Executiva do CONDISI Maria Irene Bonfim Alves, o médico da equipe Dr. Júnior Reyes, os técnicos Mara e Marlucia, a assessora do Iepé Camila de Paula e a responsável pela coordenação da Formação em Saúde pelo Iepé, a antropóloga Juliana Rosalen. Participaram do evento cerca de 100 pessoas.A alegria dos AIS veteranos por fecharem esta etapa de formação foi festejada com uma grande festa regada a muitos caxiris – bebida fermentada de mandioca.
Mas os desafios continuam. Agora a preocupação é conseguir apoio para realizar uma formação específica em técnico de enfermagem para esta turma de Agentes de Saúde Wajãpi, aprofundando o domínio das técnicas de assistência à saúde e contribuindo para um viver mais autônomo da população wajãpi.