Foram convidados a participar jovens na faixa etária de 14 a 20 anos de idade. O Encontro foi promovido pelo Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina, em parceria com o Iepé e a Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura (Awatac), tendo como objetivo principal a construção de um plano de trabalho para fomentar a participação dos jovens nas discussões sobre o fortalecimento dos modos de vida wajãpi e nas atividades voltadas à articulação política, à valorização cultural e à gestão socioambiental da T. I. Wajãpi. A mobilização dos jovens foi iniciada em resposta a uma demanda dos chefes e outras lideranças, preocupados com um crescente distanciamento entre as gerações e com sinais de desinteresse dos mais jovens em relação a conhecimentos e práticas dos Wajãpi.
Buscando em primeiro lugar ouvir os próprios jovens, o Encontro foi organizado em torno de três eixos de questões: a) saberes, práticas e aspirações dos jovens; b) seus conhecimentos sobre os trabalhos desenvolvidos pelas organizações e agentes comunitários wajãpi; c) propostas para fomentar a participação dos jovens. A discussão foi realizada através de grupos de trabalho orientados e mediados pelos membros das diretorias do Apina e da Awatac, seguidos de plenárias para apresentação dos resultados.
No primeiro dia de trabalho, voltado à escuta dos jovens Wajãpi, foram levantadas questões sobre seu dia a dia, gostos, interesses, preocupações, dificuldades e ideias sobre o futuro, individual e coletivo. Através de seus relatos foram percebidas algumas diferenças significativas entre os grupos de moças e rapazes, que refletem as formas de organização e os modos próprios de ser Wajãpi. Também foi possível notar diferenças entre os jovens que vivem na cidade e aqueles que permanecem em suas aldeias. Entre os pontos de interesse geral, destacou-se a preocupação com a valorização e o fortalecimento das práticas e saberes wajãpi, em paralelo ao desejo/expectativa de formações que possibilitem o acesso a elementos externos, como o uso de equipamentos tecnológicos, conhecimentos sobre legislação e direitos indígenas, maior fluência na língua portuguesa e o exercício de um trabalho assalariado. A busca por uma escolarização formal também apareceu como uma preocupação de todos jovens, ocupando lugar central na fala daqueles que residem fora da T. I. Wajãpi.
Os trabalhos coletivos voltados ao fortalecimento político dos Wajãpi, à valorização de seus modos de vida e à gestão sustentável da T. I. Wajãpi foram abordados no segundo dia do Encontro. Depois da apresentação em plenária do resultado das discussões em grupo, na qual se evidenciou o pouco conhecimento dos jovens sobre o trabalho desenvolvido pelas organizações e agentes comunitários, os coordenadores do evento apresentaram aos jovens como se estruturaram e funcionam as organizações indígenas, de modo geral, e as organizações wajãpi – Apina, Awatac e Apiwata – em particular. Apresentaram também, resumidamente, alguns instrumentos políticos e documentos elaborados pelos Wajãpi após a demarcação de sua terra, para garantir o respeito aos seus direitos e modos próprios de viver e dar diretrizes ao trabalho dos órgãos governamentais, como o Plano de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Wajãpi, o Plano de Ação Mosikoa’y rã kõ, o Protocolo de Consulta e Consentimento Wajãpi (Wajãpi kõ omõsãtamy wayvu oposikoa romõ ma’e) e, mais recentemente, o Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi.
Nos últimos dias foi proposto um levantamento de atividades de interesse para subsidiar a elaboração de um plano de trabalho voltado aos jovens Wajãpi. Após as conversas em grupo os jovens apresentaram seus relatos que, em plenária, foram organizados, traduzidos para o português e pactuados entre eles numa lista geral de temas de interesse. As atividades pactuadas pelos jovens foram as que envolvem:
– formação política;
– valorização das práticas e saberes tradicionais através de participação em festas e outras atividades cotidianas, além de pesquisas e elaboração de registros escritos e audiovisuais;
– oficinas com conhecedores wajãpi para aprendizado de conhecimentos e técnicas tradicionais, como cerâmica, tecelagem, pintura corporal etc;
– capacitação para o uso de GPS, câmeras, computadores e outros equipamentos de comunicação;
– capacitação na área de mecânica para consertar motores, rádios e outros equipamentos;
– participação no monitoramento do Plano de Gestão da T. I. Wajãpi através do acompanhamento e registro das atividades das famílias nos limites da Terra Indígena Wajãpi;
– cotas para os jovens em oficinas e reuniões políticas promovidas pelas organizações wajãpi;
– continuidade dos encontros de jovens wajãpi e realização de reuniões locais dos jovens nas aldeias;
– intercâmbio com jovens de outros povos indígenas e não indígenas;
– capacitação para produção e interpretação de textos em português.
Os jovens manifestaram também o interesse na possibilidade de criação de um setor de jovens no Apina, proposta bem recebida pelos representantes das organizações Wajãpi.
Ao final do Encontro foi realizada uma avaliação coletiva e o cronograma para o II Encontro de Jovens Wajãpi, agendado para dezembro deste ano, em que será pactuado o plano de trabalho com os jovens Wajãpi, que declararam interesse em participar. Como etapa subseqüente, planeja-se também um encontro dos jovens com os velhos.