Inicia a Formação Indígena em Gestão Ambiental e Territorial nas Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este – norte do Pará e Amapá

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Leste/Aldeia Bona

Aconteceu entre os dias 26 de setembro a 01 de outubro, na Terra Indígena Parque do Tumucumaque, aldeia Bona, o I Módulo de Formação Indígena em Gestão Ambiental e Territorial, componente do Projeto Bem Viver Sustentável (BNDES/Fundo Amazônia), voltado para a implementação do PGTA de ambas TIs, Tumucumaque e Rio Paru d’Este, contíguas entre si, no extremo norte do Pará. Este I Módulo contou com 36 participantes interessados em fazer parte desta formação, pertencentes a cada uma das 24 aldeias existentes na faixa leste deste complexo de TIs. Formam uma turma diversificada, composta por jovens, homens e mulheres, professores, caciques e lideranças locais, dos povos Wayana, Aparai, Wajãpi, Akuriyó, Tiriyó, Txikiyana, dentre outros.

fotos-site-ladolesteEsta formação propõe módulos semestrais de 21 dias cada, no decurso dos próximos 3 anos (2017/2019). No primeiro momento do encontro, estruturou-se uma linha do tempo das atividades já realizadas na região com apoio do Iepé, ao longo dos 11 anos de atuação na região. Araimaré Wajãpi Wayana, em sua fala, converge com o objetivo da formação proposta:

Tem dois [objetivos] principais: colocar em prática tudo que foi feito durante as oficinas, tudo que foi discutido nas assembleias, palestras, chegando a esse PGTA, com o objetivo final de fazer capacitar os novatos, os jovens, para trabalhar em cima desse PGTA; e outro é fazer viver bem melhor, com a floresta em pé, para que a natureza que vive junto com aquelas pessoas que vivem nela, possa viver bem. Trabalhando tudo, envolvendo cultura em geral.

Durante a semana, foram expostas e incorporadas contribuições dos participantes aos eixos temáticos que serão trabalhados no processo de formação: Legislação Indigenista e Ambiental; Formação do Estado Brasileiro; Produção e Soberania Alimentar; Instrumentos para a Proteção Territorial; Pesquisa e Documentação; e Modelagem Participativa – visando o empoderamento da Gestão Ambiental e Territorial de Base Comunitária.

Após a apresentação das temáticas, um jovem relata como podem ser abordados na prática alguns dos assuntos discutidos:

Eu sou também conselheiro na área de saúde. Eu sempre aconselho o pessoal do Manau para não jogar lixo na água, nem produtos como baterias, pilhas e essas coisas assim. Mas dentro de outras áreas, como da cultura – preservação de patrimônio, também tem que ter alguma segurança, um jeito que seja seguro e reconhecido nacional e internacionalmente. Para que toda arte indígena, toda cultura seja valorizada, conhecida e praticada dentro da educação – aí entra na área de educação. Dentro da educação, também pode entrar a valorização da língua. Porque tem algumas pessoas que estão perdendo a língua, então nós temos que valorizar nossa língua: esse projeto também vai estar mostrando por onde fazer, usar e defender, colocá-la em prática, ensinar como fazer isso. E também eu vou falar sobre movimento social – aquilo que eu falei que a gente tem que aprender a fazer os documentos, conhecer as leis. (Araimare Wajãpi Wayana).

Sobre a temática Formação do Estado Brasileiro, que versa sobre a História do Brasil e da região, o mesmo jovem acrescenta:

Estávamos falando da história dos Wayana e Aparai, mas também estamos incluindo Tiriyó e Txikiyana. Cada um desta etnia tem a sua história. Então, para que esses participantes se preparem, quando chegar nas suas aldeias procurarem com seus pais, velhos, perguntar sobre a história, fazer entrevistas. Para quando entrar nessa disciplina, já vem preparado. Às vezes, o mais velho não vai poder vir, para contar também a história da sua etnia (Araimare Wajãpi Wayana).

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O módulo contou com a organização e participação da Cecília Apalai, presidente da Apiwa – Associação dos Povos Indígenas Wayana e Aparai. Cecília, que também é professora. Ela reforçou que vai colaborar em repassar as informações aos jovens participantes através da tradução das conversas, com intuito de facilitar a compreensão das temáticas abordadas, e adiciona:

Outra coisa também, mais importante: eles vão ser futuro. A gente chegou no início, e a gente vem lutando, e eles que vão ser as futuras pessoas que vão começar a ajudar em suas aldeias. A gente iniciou e eles vão começar a levar pra frente, e outras futuras gerações, mais ainda. No início, a gente teve dificuldades nas negociações, mas depois, nas futuras gerações, vai ser melhor ainda. Hoje eles estão aqui, vão aprender. Mas, nas aldeias deles, eles tem que fazer essa prática que fizeram aqui. (Cecília Apalai)

Durante a capacitação, os participantes responderam a um questionário com o propósito de traçar um perfil da turma, contribuindo com a constituição das temáticas a serem tratadas durante o curso.

Ademais, foi realizada uma visita à roça de Abel Wayana, onde todos os participantes trocaram informações sobre o plantio da mandioca, realizado de diferentes modos pelos Wayana, Aparai e Tiriyó. Ao final, ficou pactuada a realização de uma feira de trocas de sementes no próximo módulo.

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