Intercâmbio entre Planos de Vida: Povos Indígenas do Complexo Tumucumaque trocam experiências com os Povos Indígenas do Oiapoque

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Foto: Aldeia Ahumã, TI Uaçá

 

O intercâmbio aconteceu entre os dias 11 e 16 de setembro nas TIs Uaçá, Galibi e Juminã, dos povos indígenas do Oiapoque, e envolveu 21 participantes, representantes dos povos Karib (Apalai, Akuriyo, Katxuyana, Txikiyana, Tiriyó, Wayana, dentre outros) das Terras Indigenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este, situadas no norte do Pará e divisa com Amapá. Planejado dentro do Programa de Formação de Jovens e Lideranças em Gestão Territorial e Ambiental, em curso no Complexo Tumucumaque, com apoio do Fundo Amazônia/BNDES, o intercâmbio teve como tema principal a troca de informações e experiências sobre os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) atualmente sendo implementados tanto no Oiapoque, quando no Tumucumaque.

O PGTA reúne e organiza as informações sobre diferentes campos do conhecimento dos povos indígenas, a fim de orientar os trabalhos e ações que garantam o bem viver nas terras indígenas demarcadas. As perguntas geradoras para apresentação dos Planos de Vida foram:

Onde queremos chegar? O que queremos para nosso futuro? O que queremos para nossas próximas gerações?

Domingos, liderança Galibi Marworno e servidor da Funai CTL Oiapoque, iniciou sua apresentação afirmando: “Nós, povos indígenas do Oiapoque, temos toda uma história de luta pela sobrevivência e pela garantia da vida. A nossa população vem lutando para se organizar e para garantir a terra. Mas antes, fazíamos isso aleatoriamente. Uma referência do início foi a partir do final dos anos 70, quando começaram nossas assembleias de caciques e lideranças. Foi aí que reforçamos a importância de organizar, lutar e nos unirmos pela nossa sobrevivência”.

 

Foto: Domingos apresenta o PGTA dos Povos Indígenas do Oiapoque; Centro de Formação, TI Uaçá

 

No centro de formação do Oiapoque, os jovens e lideranças indígenas puderam apresentar seus PGTAs uns aos outros, debater temas principais, suas prioridades e seus desafios.

Proteção territorial, saúde, educação, território, cultura, manejo da agrobiodiversidade, fortalecimento da cultura e do movimento indígena foram os principais temas tratados ao longo da semana de trocas de experiências.

A Formação dos Agentes Socioambientais no Oiapoque (AGAMIN) e a Formação de Jovens e Lideranças em Gestão Territorial e Ambiental do Tumucumaque foram ressaltadas pelos caciques e lideranças como elementos fundamentais para implementação dos PGTAs. No Oiapoque, a formação está em curso envolvendo 41 agentes socioambientais e no Complexo Tumucumaque estão em andamento duas turmas envolvendo cerca de 40 participantes cada. A expectativa é que esses jovens e lideranças sejam “grandes aliados para o que as lideranças estão pensando”, afirma Domingos.

“Aqui tem vários jovens, futuras lideranças que estamos treinando. Jovens alunos e lideranças futuras. Por isso acompanhamos eles. É muito boa a oportunidade dessa conversa. Estamos aqui para trocar, sou conselheiro do Mosaico da Amazônia Oriental. O Mosaico diz isso: todas as Terras Indígenas juntas, para que nossos inimigos não avancem. Oiapoque tem uma luta grande, tem estrada no meio de vocês e estão lutando bem”, declaração do Cacique Aretina Tiriyó.

 

Foto: Apresentação do Turé do povo Karipuna; Centro de Formação, TI Uaçá.

 

Ao longo do encontro, os jovens e lideranças indígenas visitaram a aldeia Ariramba, às margens do rio Oiapoque, na Terra Indígena Galibi, onde dialogaram sobre proteção territorial e a importância dos planos de vigilância para cuidar dos limites das terras indígenas, frente às ameaças de invasão, pesca ilegal, garimpos, estrada, hidrelétricas e outros grandes projetos de desenvolvimento. Visitaram e trocaram experiências também com as CTLs da Funai do Oiapoque, sobre seu apoio à vigilância, proteção e fiscalização das três Terras Indígenas.

Na aldeia Açaizal, TI Uaçá, experiências foram trocadas em meliponicultura, manejo da banana e citros, contando a importância da organização das comunidades para levar um projeto adiante. O manejo de baixo impacto do açaí foi conhecido em diferentes áreas, de várzea e terra firme.  Na sombra dos açaizais, através de uma série de perguntas e respostas, foram apresentados os cuidados do manejo, buscando aumentar a produção, facilitar a coleta e inclusive ampliar o tempo de safra.

Estavam presentes as Associações Indígenas do Tumucumaque Oeste e Leste (Apitikatxi e Apiwa), e do Oiapoque (AMIM e CCPIO), dentre outros representantes de organizações indígenas. Todos relataram a importância dos Núcleos Técnicos de Implementação e Monitoramento dos PGTAs, das Assembleias dos caciques e lideranças, e das Reuniões periódicas para tratarem dos seus PGTAs em andamento. Essas instâncias são fundamentais, especialmente diante da sociodiversidade das duas regiões. No Oiapoque, são oficialmente quatro povos em três terras indígenas, e no Complexo Tumucumaque são duas terras indígenas, com 5 povos reconhecidos oficialmente, mas originários de uma grande diversidade de “yanas” (gentes, povos), pouco conhecida pelos não índios.

“Nosso lugar é reservado, já é demarcado. A conversa é muito importante de indígena para indígena, quem sabe a gente não tem orientação de vocês sobre a proteção do território. Não podemos esperar mais para podermos fazer a limpeza dos limites. Eu estou com o grupo de jovens sendo orientados para que possam cuidar do nosso território, da nossa natureza, da nossa casa. Não era demarcada a terra antes. Meus pais andavam, andavam, agora é como se tivessem trancado a gente numa sala, como aqui. Tem que cuidar dessa sala. Karaiwa nunca voltou falando que ia fiscalizar, nós é temos que fazer isso. Temos que juntar com vocês para sermos mais fortes, povos indígenas do Tumucumaque e povos indígenas do Oiapoque. Eu estou aqui para cada vez saber mais cuidar bem da área em que vamos viver permanentemente, pois antes não era assim. Então agora temos que cuidar”.

 

Foto: Aldeia Ariramba, TI Galibi.
Foto: Aldeia Ariramba, TI Galibi.
Foto: Meliponicultura na Aldeia Açaizal, TI Uaçá.
Foto: Bananal da Aldeia Açaizal, TI Uaçá.
Foto: Cacique Damasceno explica o manejo de baixo impacto do açaí; Aldeia Açaizal, TI Uaçá.

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