Agentes Socioambientais Wajãpi concluem 9º módulo do curso de formação

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Nesta etapa, os ASA visitaram experiências de manejo em aldeias do Oiapoque, e discutiram, entre outros temas, a relação dos Wajãpi com o dinheiro e as diferenças entre os seus conhecimentos e os da ciência ocidental sobre florestas

Entre os dias 8 e 28 de julho de 2018, o Iepé promoveu o nono módulo do curso de formação dos Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA). Nesta etapa, os ASA discutiram a relação dos Wajãpi com o dinheiro e com a economia de mercado, a abordagem da biodiversidade por diferentes sistemas de conhecimento e aspectos importantes do monitoramento do Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi (TIW), entre outros assuntos. Além das disciplinas ministradas no Centro de Formação e Documentação Wajãpi (CFDW), na TIW, este módulo incluiu a realização de um intercâmbio entre os ASA e os Agentes Ambientais Indígenas do Oiapoque (AGAMIN), no Centro de Formação do Oiapoque, localizado na Terra Indígena Uaçá.

Em intercâmbio, os ASA visitaram os experimentos de manejo dos Agentes Ambientais Indígenas do Oiapoque

Na primeira semana do curso, os ASA estiveram no Centro de Formação do Oiapoque para trocar experiências com os AGAMIN sobre gestão territorial, o trabalho dos agentes socioambientais, mobilização política e elaboração de Planos de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PGTATI) e Protocolos de Consulta. Os ASA tiveram a oportunidade de visitar experiências de manejo em aldeias da TI Uaçá, além de conhecerem um pouco da história da região visitando o Encruzo (ponto da TI onde ficava antigo posto do Serviço de Proteção aos Índios -SPI) e o Museu Kuahí.

Retornando ao CFDW, os ASA concluíram a disciplina “Produção e Sustentabilidade” com a sistematização de um levantamento sobre o uso de dinheiro pelas famílias da TIW, feito a partir dos questionários que os ASA aplicaram em suas regiões. Ao longo da semana, o assessor Felipe Garcia orientou os alunos na construção de tabelas com as informações dos questionários e na realização de estimativas a partir dos dados encontrados nas regiões, que resultaram na elaboração coletiva de uma tabela geral com informações sobre circulação de dinheiro na TIW. A partir desse exercício, foi possível estimar o volume de empréstimos realizados e verificar os principais itens de consumo e serviços adquiridos pelos Wajãpi com o dinheiro que recebem, com destaque para o pagamento de fretes rodoviários. Os ASA refletiram sobre possibilidades de empregar melhor os recursos financeiros em benefício das comunidades, planejando estratégias para levar algumas discussões para os chefes e para os mais jovens, sobre questões como as implicações do recurso a empréstimos e a importância dos fundos coletivos.

Durante a disciplina “Produção e Sustentabilidade”, os ASA discutiram a relação dos Wajãpi com o dinheiro e com a economia de mercado

Na disciplina “Instrumentos de gestão e monitoramento”, ministrada pelo assessor Bruno Reis, os ASA construíram um plano para o levantamento de informações a partir dos indicadores propostos no Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi, com atividades que devem ser realizadas nas aldeias centrais e nos limites da TIW até o final de 2018. Entre os aspectos importantes a serem monitorados, foram listados a disponibilidade de caça, de frutíferas e de produtos das roças; os pontos de acúmulo de lixo e os sinais de invasão junto aos limites da TIW. Para fazer o registro dos dados que serão levantados, os ASA receberam dez aparelhos de celular, adquiridos pelo Projeto IGATI para subsidiar as atividades de monitoramento territorial.

Os ASA construíram um plano para o levantamento de informações a partir dos indicadores propostos em seu PGTA

Por fim, a disciplina sobre “Sistemas de Conhecimento”, ministrada pela antropóloga Dominique Gallois em colaboração com o biólogo Juliano Moraes, tratou de conceitos relacionados a biodiversidade, áreas florestais degradadas, áreas em recuperação e restauração ecológica. Foram discutidas as diferenças conceituais entre o conhecimento tradicional dos Wajãpi e o conhecimento da ciência ocidental sobre florestas, bem como as diferenças nos processos de construção destes conhecimentos. Foi apresentada aos ASA a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que reúne informações e conhecimentos diversos – inclusive de povos indígenas – sobre biodiversidade para informar a tomada de decisões de governo, com a proposta de que os Wajãpi contribuam com a plataforma com uma síntese de seus saberes e práticas tradicionais relacionados à biodiversidade a partir de informações já disponíveis em publicações produzidas pelos Wajãpi (como o Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi e o livro Kaarewarã). Ao longo das aulas, também foram discutidas as pesquisas individuais que os ASA estão realizando com orientação da professora Dominique e os experimentos de plantio de espécies florestais em áreas de capoeira que estão desenvolvendo sob orientação de Juliano.

As diferenças conceituais entre o conhecimento tradicional dos Wajãpi e o conhecimento da ciência ocidental sobre florestas foram um dos temas da disciplina “Sistemas de Conhecimento”

O nono módulo do curso de formação dos Agentes Socioambientais Wajãpi foi realizado pelo Iepé em parceria com a TNC, no âmbito do projeto “Fortalecimento da Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas na Amazônia como estratégia do controle do desmatamento e da promoção do bem-estar das comunidades indígenas” (“Projeto IGATI”), apoiado pelo Fundo Amazônia (BNDES).

Redação: Isabel Mesquita e Lúcia Szmrecsányi/ Revisão: Marina Rabello/ Fotos: Isabel Mesquita e Rita Lewkowicz

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