Entre os dias 25 de março e 13 de abril de 2019, aconteceu a VI Etapa da Formação de Jovens e Lideranças em Gestão Territorial e Ambiental no lado oeste do Complexo Tumucumaque. Esta etapa, que contou com a presença de cerca de 20 formandos, além de caciques, mulheres e lideranças, ocorreu na aldeia Missão Tiriyó, localizada na Terra Indígena (TI) Parque do Tumucumaque, extremo norte do Pará.
O primeiro módulo foi ministrado pelo antropólogo Augusto Ventura dos Santos, dando continuidade ao curso sobre “Sistemas de Conhecimentos”, iniciado na etapa anterior. Além de revisar e discutir noções como “pesquisa”, “colonização” e “preconceito”, os alunos foram estimulados a entrevistar pessoas mais velhas da aldeia, como um exercício de pesquisa. A partir deste exercício, bem como de vídeos e textos, trabalhou-se a noção de comparação entre conhecimentos, foco deste módulo. Os formandos mostraram-se entusiasmados e interessados, debatendo de modo animado os trabalhos realizados por seus colegas. Os temas de pesquisa que mais lhes interessaram foram histórias dos antigos a respeito de guerras e a fabricação de artefatos.
O segundo módulo foi facilitado pelos advogados Eloy Terena e Érika Yamada. Além de retomar e aprofundar assuntos iniciados em etapas anteriores a respeito dos direitos indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988 e em acordos internacionais, esse módulo contemplou também mais uma oficina para a elaboração do protocolo de consulta dos povos indígenas do Tumucumaque. Assim, além da presença dos estudantes, foram mobilizados caciques e lideranças de mais de vinte aldeias da região, como Cecília Awaeko Apalai, presidente da Associação dos Povos Indígenas Wayana e Aparai (APIWA), representativa do lado leste do Tumucumaque, e Araimare Wajãpi Wayana, representando os estudantes da turma do Lado Leste. Um dos principais acordos saídos dessa oficina é de que a participação de ambos os lados, leste e oeste, deve ser garantida em qualquer processo de consulta, e mesmo em reuniões importantes como as Assembleias e Encontros de Caciques e Lideranças.
O terceiro módulo, “Fortalecimento de Associações, Associativismo e Gestão de Projetos” foi ministrado por Marina Kahn, e abordou a participação das comunidades em suas associações, destacando pontos importantes dessa ferramenta dos não-índios, cada vez mais utilizada pelos povos indígenas. Um desses pontos é a questão da gestão das associações, de como “fazer as coisas de maneira organizada”, incluindo a “gestão da informação”, isto é, a importância da comunicação da associação, que está na cidade, com as pessoas que estão nas aldeias da TI. O conceito de “projeto” foi mostrado como uma ideia de trabalho para a solução de problemas: “projeto não é dinheiro”, mas um meio de se conseguir recursos para colocar uma ideia em prática. Os exercícios propostos para os grupos de mulheres, jovens e caciques incentivou a capacidade dos mesmos em organizarem orçamentos e logística para a realização de viagens, reuniões na cidade e encontros nas aldeias, compras para atividades e controle de gastos.
A Formação em Gestão Territorial e Ambiental de Jovens e Lideranças do Tumucumaque Oeste é realizada pelo Iepé no âmbito do Projeto “Bem Viver Sustentável”, que conta com apoio do Fundo Amazônia/BNDES. Essa formação faz parte da implementação de Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das TIs Parque do Tumucumaque e Paru d’Este, bem como as Oficinas de Elaboração do Protocolo de Consulta do Tumucumaque, que são apoiadas pela Fundação Moore.
A equipe do Programa Tumucumaque que acompanhou essa etapa de formação compõem-se de Andreia Vaz, Cecília de Santarém (Tita), Evandro Bernardi e Jeciane Fonseca. A diretoria da APITIKATXI (Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikiyana), composta por Aventino Nakai Kaxuyana Tiriyó, Valmir Piriri Kaxuyana e João Paulo Pauya Kaxuyana Tiriyó, participou ativamente dos diferentes momentos desta etapa.