Iepé realiza curso de multiplicadores com a temática “Clima, Agricultura e Áreas Protegidas”

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O evento teve como objetivo trazer dados e experiências exitosas sobre a gestão territorial e ambiental de áreas protegidas na Amazônia

O Iepé realizou, durante os dias 26 e 27 de novembro de 2019, o curso de multiplicadores sobre clima, agricultura e áreas protegidas voltado para servidores de órgãos do governo do Amapá, pesquisadores e profissionais atuantes na área socioambiental, no Centro de Línguas da Universidade Estadual do Amapá (CEL/UEAP). O minicurso teve como objetivo mostrar a relação intrínseca entre clima, agricultura e áreas protegidas, apresentando os cenários de clima para o Estado, as potencialidades de produção comunitária sustentáveis e a importância das áreas protegidas, com ênfase na gestão territorial dos povos indígenas do Amapá e norte do Pará.

O curso ocorreu no âmbito das atividades apoiadas pelo FAMCSA – Fórum Amapaense de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais, como uma estratégia de ampliar os debates e fomentar discussões à respeito da construção de projetos, políticas, ações e leis que fomentem atividades econômicas de baixo carbono; redução do desmatamento; manutenção do clima; segurança alimentar e qualidade de vida da população.

Nesse aspecto, durante o primeiro dia, contamos com a presença das pesquisadoras Ludmila Rattis e Alcilene Cardoso, do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que trouxeram informações sobre pesquisas e experiências exitosas em demais localidades da Amazônia. Ludmila, abriu as falas, elucidando como as florestas são importantes para a regulação do clima pelo balanço de carbono, e como o desmatamento e a degradação florestal alteram os ciclos de energia e água entre a terra e a atmosfera; consequentemente influenciando na absorção  e emissão de gases; regime de chuvas dentre outros aspectos, ocasionando efeitos globalmente. Ludmila também relacionou, utilizando como exemplo o estudo de caso realizado no Mato Grosso, como essas alterações impactam negativamente a produção de alimentos e a segurança alimentar das populações rurais. Ao final da manhã, em uma atividade prática de laboratório, apresentou a plataforma online “Portal do Clima” (que pode ser acessado pelo link: http://thecarbonsource.org/climate_explorer/), que contém base de dados climáticos históricos para toda a região pan-amazônica, com especial recorte para áreas de proteção, territórios indígenas e limites políticos, possibilitando o usuário a produzir infográficos, mapas e documentos com dados de temperatura; estações sacas; precipitação etc., bem como a projeção de eventos extremos.

Dando continuidade as atividades do dia, Alcilene Cardoso trouxe resultados e experiências vivenciadas em áreas de Projetos de Assentamento Agroextrativistas do Tapará, Aritapera, Urucurituba e Ituqui, região de Santarém, onde vivem cerca de 2.300 famílias. As atividades conduzidas fizeram parte do projeto “Negócios Familiares Sustentáveis”, que teve ampla articulação entre comunidades rurais, sociedade civil, poder público e privado, com o objetivo de fortalecer cadeias produtivas do pescado, da farinha, da banana, abelha, pecuária, pequenos animais e hortaliças para acesso ao PAA e PNAE, e, melhoria da inserção em mercados abertos. Alcilene também dividiu a experiência junto as comunidades indígenas e não indígenas da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, pela primeira chamada pública aberta pelo Incra de ATER voltada à unidades de conservação de uso sustentável, experiência inovadora que extrapolou as demandas focadas em processos de produção e permearam ações que promoveram o fortalecimento da identidade, cultura e modo de vida dessas populações, promovendo um alto índice de engajamento e mobilização social. Alcilene coloca que estes exemplos não são exitosos apenas pela contabilização do aumento da produção, mas por terem, em momentos de dificuldades, promovida a construção de uma rede de parceria ampla, focada na busca por soluções construídas junta a base, de forma participativa e empoderada.

Considerando o fundamental papel dos povos indígenas na conservação de ambientes florestais e seus serviços ecossistêmicos, durante o segundo dia, Viseni Wajãpi, do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina, Paulo Kaxuyana da Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikuyana – APITIKATXI, e Arinaware Waiana, da Associação dos Povos Indígenas Wayana e Aparai – APIWA, apresentaram os PGTAs das Terras Indígenas Wajãpi, Parque do Tumucumaque e Paru d’Este, trazendo informações sobre os povos indígenas do Amapá e Norte do Pará, seus modos de vida, proteção e gestão de seus territórios, bem como, os principais eixos de atuação dos mesmos, que envolvem desde o fortalecimento da cultura; manejo e uso sustentável dos recursos naturais; educação, dentre outros aspectos. Evandro Bernardi, assessor indigenista do Iepé, complementou as apresentações trazendo dados sobre  as mudanças e histórico de ocupação da região – tais como os processos de centralização e descentralização de aldeias ; construção do PGTA e do Projeto Orixiyana – Empoderamento das Mulheres Indígenas do Tumucumaque Leste em Gestão Ambiental e Adaptação às Mudanças Climáticas na Região.

Ao longos dos dois dias,  o curso contou com o total de 25 participantes, representando órgãos como a SEMA/IEF, INCRA, UEAP, IEPA, SEAGRO, RURAP/PESCAP, IPHAN, ICMBio e SDR. Foi organizado pela coordenadora adjunta do Programa Wajãpi, Isabel Mesquita, e por Renata Cunha, Assessora de Articulação Regional do Iepé. A ideia é que esses espaços de formação sejam mantidos e ampliados às universidades; fazendo parte de uma agenda constante construída em parceria com o governo do estado. No encerramento, Viseni Wajãpi, conduziu uma roda para que todos participantes pudessem cantar a  música Tamoko, uma forma de celebrar juntos as trocas que foram tão positivas.

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