O projeto de manejo dos tracajás iniciou em 2003, mas ganhou força nos últimos anos, chegando a 2020 com o recorde de mais de 2 mil tracajás soltos nos rios e campos alagados das Terras Indígenas de Oiapoque. Este ano, o esforço dos Agentes Ambientais Indígenas (AGAMIN) durante a coleta dos ovos (https://www.youtube.com/watch?v=ew0oR-2Q6cc) resultou em um elevado número de tracajazinhas sendo soltas neste momento, superando os últimos 17 anos do projeto. Os eventos de soltura nas Aldeias Kumenê, Flecha, Kumarumã, Karibuen e Flamã envolveram as crianças, professores, jovens, mulheres e lideranças.
Os eventos de soltura foram conduzidos pelos Agentes Ambientais Indígenas, envolvendo principalmente as crianças. No dia 10/03, a reunião foi na Aldeia Kumenê com a participação de em torno de 100 pessoas, entre crianças, professores e também lideranças mais velhas que, na ocasião, relembraram os acordos de manejo que eles contribuíram para elaborar junto às demais lideranças do rio Urukawá. Relembraram, também, a quantidade de pássaros, peixes, tracajás e jacarés que costumavam ser mais abundantes do que nos tempos atuais, justificando a importância deste trabalho. No final da reunião, um grupo de 40 pessoas fez a soltura de 105 tracajás em uma área próxima a Aldeia Mangue.
A região do Rio Uaçá foi a que mais se destacou no número de tracajás manejados, no total foram 1581 tracajás soltos. Por este motivo, a soltura foi realizada em três locais diferentes: na Aldeia Flamã, na Aldeia Karibuen e nas regiões da coleta (Zile Jacob e Pombo). No dia 12/03, o evento foi realizado na Aldeia Flamã, na subida do Rio Uaçá. Os moradores da aldeia, crianças e lideranças participaram, sendo relatado na ocasião que todos contribuíram com o projeto, seguindo as regras acordadas de manejo. O agente ambiental e o professor da escola municipal organizaram o manejo, coletaram 629 ovos e, na ocasião, foram soltou 457 tracajás.
Neste mesmo dia, a equipe técnica (composta pelos AGAMIN da região, cacique Adailson dos Santos, representante da Articulação Indígena do Povo Galibi Marworno – AIPGM e representantes da FUNAI, Iepé e UNIFAP) fez a soltura nos diferentes pontos onde a coleta dos ovos foi realizada: Pombo, Zile Jacob, Soraimon. Os AGAMIN do Kumarumã coletaram 580 ovos, dos quais nasceram 450 tracajás. Os AGAMIN do Karibuen coletaram 845 ovos, dos quais nasceram 674. Os ovos foram mantidos na incubadora construída nas aldeias até o período de eclosão e durante aproximadamente 4 meses foram cuidados até serem introduzidos de volta para os rios e campos alagados.
No dia 13/03, o evento foi feito na Aldeia Kumarumã, reunindo em torno de 200 crianças no centro comunitário da aldeia. Foram realizadas brincadeiras, atividades e conversas sobre o manejo dos tracajás. O diretor da escola municipal, Romildo dos Santos, falou sobre o “manejo dos antigos”, as regras que sempre existiram entre as lideranças mais antigas, de respeito aos seres que cuidam dos lugares e das espécies (os “donos”). Explicou que essas regras foram colocadas no papel, originando o Programa de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), do qual o Projeto Kamahad Tauahu faz parte. O AGAMIN Severino dos Santos, relembrou o trabalho dos Agentes Ambientais e a importância do apoio de toda aldeia para eles.
A soltura foi realizada com o apoio do Iepé, da TNC e da FUNAI. Participaram da atividade: Haroldo dos Santos Vilhena e Coaraci Gabriel (da CTL Oiapoque – FUNAI), Rita Becker Lewkowicz (Iepé), Roselis Mazurek (consultora Iepé), Claudiane Menezes Ramos (UNIFAP), Manoel Sorácio dos Santos (AIPGM). Os Agentes Ambientais Indígenas participaram: Geo Ioio, Jessinaldo Labontê, Garcia Narciso, Edmilson Iaparrá, Manoel Severino dos Santos, Evandinho Narciso, Adailson dos Santos Narciso, Caviano Benjamin Forte, Rivaldo dos Santos, Sidelvan Monteiro dos Santos, Egson Clarindo e Ronivaldo Severino.
Fotos: Rita Lewkowicz e Claudiane Menezes Ramos