Desde o dia 20 de março, o Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO) vem trabalhando junto aos seus parceiros e órgãos competentes na execução de medidas de prevenção e enfrentamento à COVID-19. Primeiramente, na manutenção de uma barreira sanitária de controle no Centro de Formação (principal ramal de ingresso à TI), para garantir o isolamento social nas aldeias. Apesar destas medidas, em 23 de maio foram confirmados os primeiros 05 casos de COVID-19 nas Terras Indígenas do Oiapoque e a partir deste dia os números não pararam de crescer, chegando hoje a mais de 500 casos confirmados e 15 óbitos.
A falta de estrutura para atender os povos indígenas no hospital do município de Oiapoque, somada às dificuldades de acesso para remoção dos pacientes das aldeias para a cidade, surgiu a proposta fruto da parceria entre o CCPIO, Dsei Amapá e Norte do Pará, Iepé e Expedicionários da Saúde, para a implementação de Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPIs) nas aldeias, para atendimento de casos de baixa e média complexidade com oxigenoterapia, por meio de concentradores e cilindros de oxigênio. A partir desse projeto, no mês de julho foram instaladas 4 UAPIs nas Terras Indígenas de Oiapoque: na Aldeia Manga, Kumarumã, Kumenê e Kunanã. Além disso, a CASAI Oiapoque também foi abastecida com esses equipamentos.
Entre os dias 28/07 e 12/08/2020, uma equipe técnica formada por Murilo Leandro Marcos (médico especialista em saúde da família e comunidade, consultor/Iepé), Alison Cardoso (representante da coordenação do Dsei do Amapá e Norte do Pará), Haroldo dos Santos Vilhena (chefe da CTL Oiapoque da FUNAI) e Rita Lewkowicz (Coordenadora do Programa Oiapoque do Iepé), realizou uma visita técnica nas cinco regiões das Terras Indígenas do Oiapoque, nos locais onde estão instaladas as UAPIs.
Nesta ação, foi realizada a capacitação dos profissionais de saúde das EMSI/DSEI sobre o novo coronavírus, incluindo a discussão sobre protocolos de atendimento e orientações técnicas para a operação dos equipamentos de oxigenioterapia e para a realização de testes rápidos (dos tipos antígeno e anticorpo). Foram realizadas reuniões com os caciques, lideranças locais e com as parteiras, orientando medidas de proteção e enfrentamento à COVID-19. A partir das conversas com os profissionais da saúde e lideranças indígenas, foi realizado um levantamento para diagnóstico da situação dos Polos Base e Postos de Saúde. No total, foram visitadas 21 aldeias e a CASAI Oiapoque.
Durante o itinerante, foram realizados testes e atendimentos médicos. Identificou-se 2 casos ativos de COVID-19 e, de acordo com a testagem realizada (por amostra), foi possível mapear diferentes situações: algumas aldeias em que 100% dos testes de anticorpos foram positivos, indicando que aparentemente todas as pessoas da comunidade tiveram contato com o vírus, enquanto em outras aldeias apenas 40 ou 50% dos testes foram positivos. Ainda que a análise não possa ser conclusiva, por não haver uma testagem em massa, percebe-se que uma primeira onda de COVID-19 já ocorreu nas TIs de Oiapoque, mas o coronavírus ainda está ativo na região, o que merece atenção e continuidade das medidas de prevenção e controle.
Espera-se que não haja uma segunda onda da COVID-19 na mesma intensidade que a primeira, mas a partir desta parceria, as UAPIs estão equipadas e as equipes capacitadas para receberem os pacientes.
A instalação das UAPIs nas Terras Indígenas do Oiapoque é uma ação que integra o Plano Emergencial do Iepé de enfrentamento à Covid 19 na região do Amapá e norte do Pará, que vem sendo implementado em parceria com o DSEI Amapá e Norte do Pará, CR Macapá da Funai, CCPIO, organizações indígenas da região, Expedicionários da Saúde, Coiab e Greenpeace, com apoio da Embaixada da França, Embaixada da Noruega e Rainforest Foundation Norway.