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Para cuidar da Terra Indígena: a trajetória de Domingos Santa Rosa, sua terra e seu povo
Para cuidar da Terra Indígena: a trajetória de Domingos Santa Rosa, sua terra e seu povo

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Livro traz as memórias da liderança indígena Domingos Santa Rosa e, ao mesmo tempo, uma análise dos processos de mudanças nas terras indígenas do Oiapoque

Texto: Thaís Herrero | 24 de março de 2021

Domingos Santa Rosa era uma pessoa acolhedora, diplomática e sábia. Foi respeitado tanto pelas comunidades indígenas, para quem era uma importante liderança, quanto pela Funai, onde foi servidor público por muitos anos. Sua história de vida reflete as transformações recentes que aconteceram nas terras indígenas do Oiapoque, onde nasceu em 1961.

Por ter sido testemunha e ator ativo de mudanças, sua trajetória está contada em Para cuidar da Terra Indígena – Memórias e reflexões de Domingos Santa Rosa. O livro está sendo lançado pelo Instituto Iepé em parceria com o Museu Kuahí, Funai e Rainforest Foundation Norway (acesse o livro). Seu potencial de articulação está contado em situações como a demarcação dos territórios e as relações estabelecidas com o governo.

O livro foi escrito com base em vinte horas de conversas feitas em 2018 por Rita Becker Lewkowicz, coordenadora do Programa Oiapoque do Iepé, e Augusto Ventura dos Santos, na época consultor do Iepé. Parte do livro teve revisão e colaboração de Domingos, que, em abril de 2020, faleceu por problemas de saúde. “Por sua visão de futuro e preocupação com a gestão socioambiental das terras indígenas, Domingos era uma liderança muito querida e o livro acabou virando uma homenagem póstuma”, conta Rita. 

Ao longo das páginas, Domingos critica a chegada dos militares durante a ditadura militar, questiona o chamado progresso ou desenvolvimento e fala dos impactos culturais e ambientais trazidos por essas ideias. Ele também conta do aumento da participação das mulheres nas associações e decisões das aldeias nos últimos tempos, e traz os temas da saúde e educação para os indígenas. Domingos aborda negociações, como a do asfaltamento da BR-156, que passa pela Terra Indígena Uaçá, ligando a cidade de Macapá ao Oiapoque.

Por suas reflexões, histórias e prognósticos do futuro, Domingos desejava que o público-alvo do livro fossem os jovens estudantes e lideranças indígenas. Seu objetivo era, e ainda é, que o livro sensibilize-os sobre os direitos constitucionais, sobre a história de seu povo e o necessário zelo à Terra Indígena. 

“É em busca de conhecimento. Não se transformar só num cidadão comum, mas se transformar num cidadão que tenha conhecimento da sua importância, do seu direito, sua responsabilidade em construir a política local, lutar pelos seus direitos, garantir a integridade do seu povo. É nesse cidadão que os povos indígenas querem se transformar. Estudar, mas com a consciência de que tem que cumprir com a sua responsabilidade, conhecendo seus direitos, sua obrigação de contribuir na formação de opinião e principalmente lutar pela existência de todos aqueles que vêm atrás, porque acho que somente dessa forma nós vamos garantir nossa memória e nosso futuro. É aprendendo e valorizando mais a nossa cultura, com acesso aos conhecimentos gerais, mas sem se esquecer de onde viemos.” 
Domingos Santa Rosa, em trecho do livro

O livro Para cuidar da Terra Indígena – Memórias e reflexões de Domingos Santa Rosa inaugura a coleção “Conhecedores Indígenas”. Em breve, outras publicações como essa estarão disponíveis.

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