Povos indígenas do Tumucumaque iniciam manejo sustentável do óleo da copaíba 

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A iniciativa surge a partir do intercâmbio entre os saberes indígenas e quilombolas que possibilita a adoção das boas práticas do extrativismo responsável

Texto: Iepé

Neste mês de julho, os povos indígenas da porção Leste das TIs Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este (região denominada “Tumucumaque Leste”), participaram do início da implementação do projeto Kapaju: Manejo sustentável do extrativismo do óleo de Copaíba, que tem como objetivo fortalecer uma nova experiência econômica na região, voltada para a extração do óleo da copaíba.

O projeto foi aprovado no programa COPAÍBAS – Comunidades Tradicionais, Povos Indígenas e Áreas Protegidas nos biomas Amazônia e Cerrado pela Associação dos Povos Indígenas Waiana e Apalai (APIWA) em parceria com o Iepé e visa conciliar a conservação da floresta com a geração de renda para os povos dessa região a partir de atividades sustentáveis.

 Durante a capacitação foi realizada a aferição da Circunferência da Árvore a Altura do Peito (CAP) (Foto Nacip Mahmud/Iepé)

Experiente na extração do óleo de copaíba, o professor quilombola Aldo Pita, que integra a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), foi quem ministrou a capacitação sobre as boas práticas de extração do óleo de copaíba e explicou sobre a importância dos cuidados com os equipamentos, que devem ser higienizados antes do uso, da limpeza do caule da árvore, e da perfuração no caule que deve respeitar à altura da circunferência CAP, medidas que garantem a extração de um óleo de copaíba com maior índice de pureza.

“As atividades envolveram oficinas para realização do mapeamento das áreas de uso dos grupos indígenas extrativistas de copaíba no Tumucumaque Leste. Este mapeamento também faz parte do processo de rastreabilidade do óleo de copaíba. Também foi realizado um treinamento em boas práticas de coleta e pós-coleta da copaíba”, ressaltou Nacip Mahmud, assessor do Iepé.

Após uma pequena raspagem e perfuração no caule da árvore o óleo de copaíba é extraído (foto: Nacip Mahmud/Iepé)

O cacique da aldeia Arawaka, Tiago Apalai, relatou que quando criança acompanhava o pai nas atividades na floresta e que mais tarde recebeu em sonho a missão de trabalhar de forma sustentável com os recursos da sociobiodiversidade disponíveis na sua terra indígena. 
“Foi em sonho, sabe, como branco chama?  Eu encontrei com Arima imo, um macaco grande, o dono da copaíba. E ele me trouxe até aqui no mato e perguntou o que eu estava caçando na região. Ele me mostrou, então, o primeiro pé de copaíba. Essa é uma árvore muito boa, parente pode vir, pode pegar o óleo dela. Aqui é o começo da área dela, lá depois dos morros tem uma aldeia grande de copaíba”, contou Tiago.
A área citada pelo cacique fica localizada no rio Xihtaré, afluente importante da bacia do rio Paru d’Este, no coração da Terra Indígena do Parque do Tumucumaque. A região é historicamente habitada pelos povos Wayana e Aparai e, nela, há relatos de povos indígenas isolados.

Aldeia “Kopaipa pano”, aldeia da Copaíba às margens do rio Xihtaré (Foto Nacip Mahmud/Iepé)

O trabalho de mapeamento das copaibeiras na região do rio Xihtaré é realizado pelos jovens indígenas das comunidades locais, que a partir do uso das geotecnologias (GPS e aplicativo Mapeo, que foi desenvolvido pela Digital Democracy com apoio da Nia Tero) realizam o monitoramento dos produtos da sociobiodiversidade na cadeia da copaíba.

Sobre a capacitação

Durante a programação foi realizada a capacitação em boas práticas de extração, coleta e pós-coleta do óleo da copaíba. E destacou-se a importância da segurança dos extrativistas indígenas nas áreas de coleta para evitar acidentes  com animais peçonhentos. 

Ao todo foram mapeadas e visitadas sete árvores de copaíba, de onde foram coletadas as coordenadas geográficas, dados morfológicos de cada planta e fixadas as placas de identificação contendo o número da árvore e letra que representa a aldeia que maneja a área. 

“Eu levei a equipe pra lá pra estudar sobre a copaíba, como furar a planta para extrair o óleo e, agora, esperamos a continuação para aprender mais e ajudar o povo a conhecer mais e buscar caminhos para a gente vender essa copaíba”, enfatizou Tiago Apalai.  

Pós coleta

Outra etapa importante diz respeito ao armazenamento da copaíba, na qual é necessário seguir alguns critérios técnicos. Nesta etapa, os participantes realizaram, na aldeia Arawaka, o processo de limpeza dos resíduos, usando filtros  em tecido e funil em alumínio para, então, armazenarem em galões de 10 litros, com proteção da luz solar e armazenando em local fresco e sem incidência do sol.

O processo de filtragem assegura a qualidade e pureza da copaíba extraída pelos indígenas (Foto Nacip Mahmud/ Iepé)

Aldo citou a importância de “manter sempre as boas práticas de limpeza dos vasilhames e ferramentas utilizadas para que o óleo possa manter sua pureza em todo processo”. Também foram coletadas duas amostras para posterior análise laboratorial.

As amostras coletadas durante a atividade serão encaminhadas para análise em laboratório (Foto Nacip Mahmud/Iepé)

A expectativa é que nos próximos meses a APIWA e o Iepé realizem novos mapeamentos das áreas produtivas para coleta de copaíba, seguindo os passos de rastreabilidade, junto às aldeias Arawaka, Bona, Taunumai, Tapauku e Xihtaré. 

O projeto é fruto da parceria entre APIWA e Iepé, buscando potencializar o manejo da copaíba na região leste do Tumucumaque, com investimentos na logística para extração do óleo, aquisição de ferramentas e equipamentos necessários para realização do trabalho junto às aldeias envolvidas. Também visa propiciar intercâmbios e trocas de conhecimentos sobre a temática. O projeto conta com aporte financeiro do Edital Copaíbas do FUNBIO e parceria da Nia Tero.

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