3º Encontro Wayamu discute governança territorial e desenvolvimento comunitário

data

A ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, e outros representantes de órgãos federais ouviram as demandas dos mais de 300 participantes do Encontrão.

Texto: Maria Silveira

Lideranças do Território Wayamu. (Foto: Aventino Kaxuyana Tiriyó)

“Nós somos muitos Yana, somos a diversidade. Terra Indígena para nós significa luta” – Angela Amanakwa Kaxuyana.

O 3º Encontro da União do Território Wayamu, ou “Encontrão Wayamu”, ocorreu de 4 a 8 de março na Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana, na Aldeia Paru Mîtî, às margens do rio Mapuera, em Oriximiná (PA). Esta é a primeira vez que acontece em uma aldeia.

Além de ser um momento de celebração e reunião dos povos que integram o território e de povos vizinhos, o Encontrão também serviu para avaliar os últimos três primeiros anos da implementação do seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), e debateu temas relacionados à proteção territorial, como a urgência da demarcação física da TI Kaxuyana-Tunayana no Leste do Território Wayamu, e a regularização da TI Ararà, na borda sudeste deste Território. 

“Essa é uma grande assembleia que marca o início da implementação de um modelo de governança concebido pelos povos do Wayamu, conforme entendem que faz sentido se organizarem hoje, no contexto dos direitos e políticas públicas que lhes são garantidas”, pontua Denise Fajardo, coordenadora do Programa Tumucumaque-Wayamu, do Instituto Iepé. 

Para contribuir com a discussão e ouvir demandas, estiveram presentes no primeiro dia, Sônia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas (MPI), Lucia Alberta, presidente interina da Funai, Puyr Tembé, da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas do Pará (SEPI/PA), e Welton Suruí, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins. 

“Esta é a primeira vez que o Encontro Wayamu recebe autoridades exclusivamente com representações indígenas, o que é resultado de assembleias e encontros como este. Precisamos ocupar esses cargos estratégicos para continuarmos lutando e trabalhando em harmonia com o movimento indígena de nossas bases”, afirma Sônia Guajajara.

A Ministra Sônia Guajajara, Lucia Alberta, presidente interina da Funai, e Puyr Tembé (SEPI/PA) são recebidas com danças e celebrações pelos povos do Território Wayamu. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

Demarcação já

A urgência da demarcação física da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana e a regularização da TI Ararà foram algumas das demandas levadas pelas lideranças indígenas aos representantes do governo presentes no encontro. Em um apelo ao Ministério Público Federal do Pará e à Funai, Luis Carlos Xaraka, Cacique da Unidade Territorial Mapuera, disse: “Vocês estão vendo nosso Jabuti? Ele está pronto, mas nossa demarcação não está junto deste casco. Nós queremos ela com urgência para que este casco fique bonito e completo”. 

A garantia da demarcação da TI Kaxuyana-Tunayana também assegura a proteção aos povos isolados que habitam a região. (Foto: Maria Silveira / Instituto Iepé)

A demarcação é uma etapa essencial para a continuidade da implementação do PGTA do Território. Em maio de 2023, lideranças do Wayamu foram até Brasília para tratar da demarcação da TI Kaxuyana-Tunayana e a criação do Grupo de Trabalho de Identificação e Delimitação da TI Ararà junto ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). 

“Não podemos esperar mais por essa demarcação. Essa terra é nossa, esse rio é nosso”- Cacique Wanaperu Wai Wai

Turismo de base comunitária

Outro tema debatido no encontro foi o Turismo de Base Comunitária (TBC). Essa atividade pode contribuir para a preservação do território através da valorização da cultura tradicional, da geração de renda e do protagonismo das comunidades. O Turismo de Base Comunitária funciona como uma ferramenta de defesa contra invasores e auxilia na gestão territorial. 

Já estão em andamento oficinas de capacitação em TBC nos rios Mapuera, Cachorro, Trombetas e Jatapu, demonstrando o compromisso dos povos do Wayamu em explorar essa oportunidade de forma sustentável e responsável.

Entardecer na Aldeia Paru Mîtî, às margens do rio Mapuera, na TI Kaxuyana-Tunayana. (Foto: Aventino Kaxuyana Tiriyó)

As discussões durante o Encontro foram uma oportunidade para tirar dúvidas e mostrar para os parentes como o TBC funciona. Para isso, Thaissa Sobreiro, consultora especializada no assunto, conduziu uma conversa abordando diferentes tipos de turismo existentes, como o etnoturismo. Essa modalidade proporciona experiências autênticas aos visitantes, permitindo que conheçam e respeitem a cultura dos povos indígenas em seus territórios.

Os povos do Wayamu terão autonomia para decidir como desejam organizar o turismo em seu território a partir da elaboração de um plano de visitação construído em conjunto. Para isso, serão discutidas as etapas necessárias para a construção desse plano, levando em consideração as particularidades de cada unidade territorial, garantindo que a atividade turística beneficie a todos e não cause impactos negativos.

“Somos muitos Yana”

Situado entre os estados do Pará, Amazonas e Roraima, o Território Wayamu é formado pelas Terras Indígenas Trombetas-Mapuera, Nhamundá-Mapuera, Kaxuyana-Tunayana e Ararà. A região abrange um complexo de 7 milhões de hectares e é habitado por mais de 20 povos, incluindo os Hexkaryana, Wai Wai, Kahyana, Katxuyana, Inkarïyana, Yatxkuryana, Katwena, Tunayana, Xerew, Parukwoto, Mawayana, Txikyana, Xowyana, Mînpoyana, Caruma, Karapawyana, Kararayana, Yukwariyana, Okoymoyana e demais yana. Há também registro de alguns povos isolados no território.

A aldeia Paru Mîtî foi o local do 3º Encontrão Wayamu. Fotografia: Aventino Kaxuyana Tiriyó. Animação: Maria Silveira

Para a vice-presidente da AMIRMO, Edinalva Micwana Wai Wai, a participação das mulheres também é fundamental para as discussões do encontro. “O povo yana aumentou. A mulherada veio até o encontro para apoiar nossos parentes. Eu trouxe farinha, banana, batata, pinturas, artesanatos e danças que são importantes para compartilhar com nossos parentes”, afirma a liderança.

Os debates do encontro foram traduzidos para o português, wai wai, werikyana/kaxuyana, hexkaryana e tiriyó. O termo “Wayamu” é o nome utilizado pela maioria dos povos que habitam a região para se referir ao jabuti. Para eles o animal é uma simbolização da força e da resistência dos povos indígenas, e o seu casco, uma imagem da unidade entre as diferentes Terras Indígenas e povos que compõem esse grande território. Acesse o mapa do território para mais informações.

Na imagem, lideranças representam as 12 novas aldeias abertas no Território Wayamu desde 2022. Com apoio do Iepé, famílias estão voltando a ocupar lugares habitados por seus anciãos e antepassados, o que contribui  para a proteção territorial (Foto: André Yafoma Hexkaryana/ Comunicador indígena do Território Wayamu)

Participação de órgãos federais e parceiros

Também estiveram lá representantes de órgãos federais, como o Procurador da República de Santarém/PA, Paulo de Tarso Oliveira, e da Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema da Funai, da Coordenação Regional da Funai Manaus e da Coordenação Técnica Local da Funai Oriximiná.

Entre os representantes das entidades indígenas, estiveram Ronaldo Amanayé, pela Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Darcy Marubo pela Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), Toya Machineri, pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Gracinha Manchineri, do Centro Amazônico de Formação Indígena (Cafi) e representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp).

Também estiveram, Claudia Baré, do Fundo Indígena da Amazônia Brasileira (Podáali), Naré Baré, pela Nia Tero, e representantes do IDEFLOR-bio.

Organizações indígenas

Estiveram presentes no Encontro as lideranças das associações indígenas que compõem o Território Wayamu: Associação Indígena Kaxuyana, Tunayana e Kahyana (AIKATUK), Associação dos Povos Indígenas do Mapuera (APIM), Associação dos Povos Indígenas Trombetas Mapuera (APITMA), Associação de Mulheres Indígenas da Região do Município de Oriximiná (AMIRMO), Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai (APIW), Conselho Geral do Povo Hexkaryana (CGPH), Associação dos Povos Indígenas do Alto Rio Nhamundá (ASPIARIN) e Associação Aymara.

“Encontros como estes, envolvendo diferentes comunidades, povos e línguas, são importantes para unir forças para a conquista de nossos direitos, defendendo nossos interesses e cuidando de nossas vidas”, ressalta Giovani, presidente da Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai – APIW.

Amigos do Wayamu

O Encontro Wayamu também recebeu lideranças aliadas de territórios próximos, os chamados “Amigos do Wayamu”. Como os parceiros das Terras Indígenas Parque do Tumucumaque (PA), Rio Paru D’Este (PA) e WaiWai (RR). Além das associações representativas dessas Terras Indígenas, a Associação dos Povos Tiriyó, Kaxuyana e Txikiyana (APITIKATXI) e a Associação dos Povos Wayana e Aparai (APIWA).

Representando a Articulação das Mulheres Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikiyana (AMITIKATXI), vinculada à APITIKATXI, Mitore Cristiana Tiriyó Kaxuyana fala que é preciso continuar cuidando do Território em conjunto: “A união das mulheres, dos jovens e dos anciãos é necessária, porque quando todos estão juntos, ficamos fortalecidos”, explica Mitore.

Leia também:

2º Encontro Wayamu reúne lideranças para criar a governança participativa do seu território – Iepé (institutoiepe.org.br)

Mais
notícias