Texto: Iepé
O Instituto Iepé soma hoje 22 anos de história. Atua em 10 Terras Indígenas no Amapá, norte do Pará e divisas com Roraima e Amazonas. São mais de 80 colaboradores distribuídos em cinco escritórios em São Paulo (SP), Macapá (AP), Oiapoque (AP), Santarém (PA) e Oriximiná (PA). Mas tudo começou em uma sala dentro da Universidade de São Paulo (USP), mais precisamente dentro do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP.
Essa relação entre a universidade e o instituto possibilitou que recebêssemos a marca DNA USP, criada para identificar empresas constituídas por alunos, ex-alunos e pesquisadores que passaram pela universidade ao longo dos anos. Também recebem o selo as empresas resultantes de processos de incubação ou de aceleração em alguma das incubadoras associadas à USP. A curadoria das entidades selecionadas é feita pela Agência USP de Inovação.
Para entender os detalhes de como a trajetória do Iepé se cruza e se entrelaça com a da Universidade de São Paulo, conversamos com a antropóloga Dominique Tilkin Gallois, idealizadora e uma das fundadoras do Instituto, e com Luis Donisete B. Grupioni, que também integrou o grupo que fundou o instituto. Hoje Dominique segue como professora colaboradora sênior do Departamento de Antropologia da USP e é coordenadora do Programa Zo’é do Iepé, e Luis Donisete, que foi seu orientando em antropologia, é o atual coordenador-executivo do instituto.
“A formação de excelência em antropologia e o debate intelectual: acredito que essas foram as principais contribuições da USP para a história do Iepé”, começa Dominique.
Da pesquisa sobre os povos indígenas para a atuação indigenista
Em 1990, a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha fundou o Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII/USP), que apresentou uma nova abordagem para a história dos povos indígenas no Brasil. A partir de 1995, Dominique passou a coordenar o NHII, desenvolvendo um amplo programa de pesquisa sobre os povos indígenas da região das Guianas que contribuiu com a gênese do Iepé.
Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) vários alunos de mestrado e doutorado desenvolveram pesquisas etnográficas nas terras indígenas do Amapá e norte do Pará. “Sem esses núcleos viabilizando projetos e verbas para pesquisa, não teríamos um corpo de antropólogos conhecedores da região, que iam a campo para territórios que não eram fáceis, nem baratos de chegar”, explica Dominique.
Luis Donisete destaca que paralelamente à pesquisa acadêmica, as comunidades indígenas traziam demandas de apoio a projetos de educação e assessoria junto a órgãos de governo. “Mas isso não podíamos fazer no âmbito da pesquisa. Foi, então, que veio a atuação indigenista. Dominique convidou um grupo de alunos e de pessoas que atuavam no Amapá e criamos o Instituto Iepé”, relembra Luis.
Quando o Iepé surgiu, o foco era na formação de professores indígenas e apoio às organizações indígenas que estavam nascendo”, diz Dominique. Nessa época, o único povo com quem o Iepé trabalhava eram os Wajãpi, no Amapá. Mas logo o trabalho se expandiu para outros povos.
Contribuíram para essa expansão a professora Lux Vidal, também do Departamento de Antropologia da USP, que conduzia pesquisas etnográficas na região do Oiapoque (AP), Lúcia Hussak van Velthem, do Museu Paraense Emílio Goeldi e que foi orientanda de Lux e fazia pesquisa entre os Wayana Aparai, e Denise Fajardo, aluna de Dominique e pesquisadora do povo Tiriyó e Katxuyana.
Com o tempo, vários orientandos de Dominique foram integrando o Iepé. Também foi porta de entrada para a instituição jovens pesquisadores do Centro de Estudos Ameríndios (CESTA/USP), coordenado por Dominique até 2018 e que substituiu o NHII/USP. Além de Luis Donisete e Denise Fajardo, também fizeram parte da história Nadja Havt e Juliana Rosalen, que são sócios fundadores.
Outro grupo importante para a história do Iepé foi o Mari – Grupo de Educação Escolar Indigena do Departamento de Antropologia da USP, coordenado pela Professora Aracy Lopes da Silva. “São diferentes gerações de profissionais bem formados, que tiveram condições de realizar pesquisa junto a vários povos indígenas desta região, ao longo dos últimos 22 anos, e vários deles hoje integram o Iepé”, afirmou Dominique.
“A USP formou, ao longo dos anos, vários antropólogos que deram origem e integram as principais organizações indigenistas do país, como o CTI, a CPI-SP, o ISA e o Iepé”, concluiu Luis Donisete.
Outras organizações e empresas fundadas por integrantes da comunidade USP compõem o Hub USP Inovação e podem ser encontradas no site.