Agentes Socioambientais Wajãpi recebem certificação como técnicos em meio ambiente

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Vinte e sete indígenas se formaram graças a uma parceria entre o Iepé e o Ifap. A cerimônia e festa de formatura aconteceram nos dias 13 e 14 de outubro na Terra Indígena Wajãpi.

Texto: Maria Silveira

Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA). Foto: Maria Silveira I Instituto Iepé

“Se a gente destruir a Amazônia, onde vamos criar recursos? Por isso nós cuidamos para retirar os recursos naturais e viver. Fazemos isso junto com nossa comunidade. O Agente Socioambiental Wajãpi não trabalha só, ele trabalha junto com os outros Wajãpi”, explica Akitu Waiãpi. 

Akitu Waiãpi é agora um técnico em meio ambiente, já que ele é um dos 27 Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA) que se formaram nos dias 13 e 14 de outubro em uma cerimônia na Terra Indígena Wajãpi.

A formatura dos ASA marcou a conclusão de um processo iniciado em 2015 graças a uma iniciativa do Instituto Iepé em parceria com a The Nature Conservancy Brasil (TNC), no âmbito de um projeto para implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), que contou com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES. 

A formação dos Agentes Socioambientais Wajãpi também teve apoio da Fundação Rainforest da Noruega e participação da Funai, do Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) e da Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura (Awatac). 

A partir do estabelecimento de um termo de cooperação técnica entre o Iepé e o Instituto Federal do Amapá (IFAP), em 2018, a formação de agentes ambientais indígenas passou a ser desenvolvida em parceria com o campus agrícola do IFAP Porto Grande. O curso também contou com uma turma de Agentes Ambientais Indígenas (Agamin) do Oiapoque, que se formaram em agosto deste ano.

Os ASA no laboratório do Campus Agrícola IFAP Porto Grande. Foto: Instituto Iepé (2019)

Ao todo 68 alunos matriculados realizaram algumas atividades e tiveram aulas sobre conteúdos complementares oferecidos pelo IFAP. Os estudantes Wajãpi e do Oiapoque realizaram intercâmbios entre seus territórios ao longo de seus estudos, e os Agamin foram convidados pelos ASA a participar da cerimônia na Terra Indígena Wajãpi.

Os ASA ajudam as comunidades wajãpi a fazer a vigilância e o monitoramento territorial e a implementar o Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi, além de realizar pesquisas para fortalecer os conhecimentos e práticas de seu povo. Durante os anos de curso, eles desenvolveram experimentos de plantio, participaram de discussões e coletaram informações sobre alimentação, manejo de caça e de peixes, práticas agrícolas, processos de regeneração florestal e transformações ambientais dentro da Terra Indígena, entre outros assuntos.

Agentes Socioambientais Wajapi (ASA) em campo. Foto: Instituto Iepé (2017)

“Estou muito orgulhosa em receber esse diploma”, é o que fala Ajãreaty Waiãpi, chefe de uma das aldeias wajãpi e uma das quatro mulheres formadas. Durante a cerimônia, ela foi a primeira a receber o certificado, sendo muito aplaudida por sua conquista e pela importância da liderança que exerce junto aos homens e mulheres de seu povo.

Ajãreaty Waiãpi, formada em técnica em meio ambiente. Foto: Maria Silveira I Instituto iepé

Para Lúcia Szmrecsányi, coordenadora do Programa Wajãpi do Iepé, a certificação é uma conquista na luta dos povos indígenas. “É a terceira vez que estamos certificando alunos aqui na Terra Indígena Wajãpi. Primeiro foram os professores indígenas, depois os agentes de saúde e agora os agentes socioambientais. Para nós do Iepé é uma felicidade muito grande ter construído parcerias e obtido reconhecimento para mais uma formação diferenciada e específica, voltada para as necessidades do povo Wajãpi e para o fortalecimento de seus conhecimentos, práticas e modos de vida. Esperamos que os ASA continuem trabalhando para proteger a Terra Wajãpi e manter sua sustentabilidade”, pontua Lúcia. 

Jatuta Waiãpi apresenta a história dos Agentes Socioambientais Indígenas. Foto: Maria Silveira I Instituto Iepé.

“A formação é importante para o fortalecimento do nosso trabalho”, diz Jatuta Waiãpi, agente socioambiental e ex-coordenador da Associação Wajãpi Terra Ambiente e Cultura (Awatac), que agora  ingressou no curso de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará. Para os Wajãpi, a certificação é um passo importante para o reconhecimento da profissão de agente socioambiental indígena, pela qual pretendem continuar lutando.

A entrega dos certificados aconteceu no Centro de Formação e Documentação Wajãpi (CFDW) e também foi comemorada em uma festa tradicional, com uma música criada especialmente para a ocasião e com muita dança.

Os ASA convidaram parceiros e amigos para celebrarem a formação em uma festa na Aldeia Kwapo’ywyry. Foto: Maria Silveira I Instituto Iepé

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