Texto: Maria Silveira
“Se a gente destruir a Amazônia, onde vamos criar recursos? Por isso nós cuidamos para retirar os recursos naturais e viver. Fazemos isso junto com nossa comunidade. O Agente Socioambiental Wajãpi não trabalha só, ele trabalha junto com os outros Wajãpi”, explica Akitu Waiãpi.
Akitu Waiãpi é agora um técnico em meio ambiente, já que ele é um dos 27 Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA) que se formaram nos dias 13 e 14 de outubro em uma cerimônia na Terra Indígena Wajãpi.
A formatura dos ASA marcou a conclusão de um processo iniciado em 2015 graças a uma iniciativa do Instituto Iepé em parceria com a The Nature Conservancy Brasil (TNC), no âmbito de um projeto para implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), que contou com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES.
A formação dos Agentes Socioambientais Wajãpi também teve apoio da Fundação Rainforest da Noruega e participação da Funai, do Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) e da Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura (Awatac).
A partir do estabelecimento de um termo de cooperação técnica entre o Iepé e o Instituto Federal do Amapá (IFAP), em 2018, a formação de agentes ambientais indígenas passou a ser desenvolvida em parceria com o campus agrícola do IFAP Porto Grande. O curso também contou com uma turma de Agentes Ambientais Indígenas (Agamin) do Oiapoque, que se formaram em agosto deste ano.
Ao todo 68 alunos matriculados realizaram algumas atividades e tiveram aulas sobre conteúdos complementares oferecidos pelo IFAP. Os estudantes Wajãpi e do Oiapoque realizaram intercâmbios entre seus territórios ao longo de seus estudos, e os Agamin foram convidados pelos ASA a participar da cerimônia na Terra Indígena Wajãpi.
Os ASA ajudam as comunidades wajãpi a fazer a vigilância e o monitoramento territorial e a implementar o Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi, além de realizar pesquisas para fortalecer os conhecimentos e práticas de seu povo. Durante os anos de curso, eles desenvolveram experimentos de plantio, participaram de discussões e coletaram informações sobre alimentação, manejo de caça e de peixes, práticas agrícolas, processos de regeneração florestal e transformações ambientais dentro da Terra Indígena, entre outros assuntos.
“Estou muito orgulhosa em receber esse diploma”, é o que fala Ajãreaty Waiãpi, chefe de uma das aldeias wajãpi e uma das quatro mulheres formadas. Durante a cerimônia, ela foi a primeira a receber o certificado, sendo muito aplaudida por sua conquista e pela importância da liderança que exerce junto aos homens e mulheres de seu povo.
Para Lúcia Szmrecsányi, coordenadora do Programa Wajãpi do Iepé, a certificação é uma conquista na luta dos povos indígenas. “É a terceira vez que estamos certificando alunos aqui na Terra Indígena Wajãpi. Primeiro foram os professores indígenas, depois os agentes de saúde e agora os agentes socioambientais. Para nós do Iepé é uma felicidade muito grande ter construído parcerias e obtido reconhecimento para mais uma formação diferenciada e específica, voltada para as necessidades do povo Wajãpi e para o fortalecimento de seus conhecimentos, práticas e modos de vida. Esperamos que os ASA continuem trabalhando para proteger a Terra Wajãpi e manter sua sustentabilidade”, pontua Lúcia.
“A formação é importante para o fortalecimento do nosso trabalho”, diz Jatuta Waiãpi, agente socioambiental e ex-coordenador da Associação Wajãpi Terra Ambiente e Cultura (Awatac), que agora ingressou no curso de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará. Para os Wajãpi, a certificação é um passo importante para o reconhecimento da profissão de agente socioambiental indígena, pela qual pretendem continuar lutando.
A entrega dos certificados aconteceu no Centro de Formação e Documentação Wajãpi (CFDW) e também foi comemorada em uma festa tradicional, com uma música criada especialmente para a ocasião e com muita dança.