Texto: Gina Feitosa
Cerca de 300 indígenas fizeram, entre 18 de setembro e 23 de outubro, expedições de vigilância e limpeza nos limites das Terras Indígenas Galibi, Uaçá e Juminã, na região do Oiapoque (AP). O objetivo é fiscalizar os limites dos territórios. Essa atividade é uma estratégia de proteção presente do Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas do Oiapoque e há mais de 6 anos não acontecia.
Em 2017, ano da última expedição, foi levantada uma preocupação por parte dos indígenas em relação à utilização dos limites do Km 102 da BR-156, no limite entre a TI Uaçá e a Floresta Estadual do Amapá (FLOTA), como estrada de passagens para maquinários de garimpo. Na época, foram encontrados vestígios de atividades garimpeiras encontradas em acampamentos e igarapés próximos ao Marco Sul da TI Uaçá.
Reuniões preparatórias
Para que a expedição pudesse acontecer, duas reuniões de planejamento foram feitas, uma no Museu Kuahí, com as Organizações Indígenas, na qual Zildo Felício, coordenador da Associação Indígena Palikur (AIPA), assumiu o compromisso com as outras Organizações Indígenas locais de retomar as expedições anuais de vigilância dos Palikur. Essas organizações são: Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM), Associação Indígena Karipuna (AIKA), Articulação Indígena do Povo Galibi Marworno (AIPGM), Articulação Indígena do Rio Oiapoque (AIRO) e Nana Kali’na. A segunda reunião, na aldeia Kumenê, localizada no Rio Urukauá, teve o objetivo de planejar os trabalhos e fechar a logística junto às lideranças antigas da aldeia Kumenê e representantes do Iepé.
Divididos em dois grupos, um menor entrou no km 102 da BR 156 e o outro em maior quantidade entrou no Km 64 da BR 156. A entrada dos Palikur para a expedição era muito esperada pelos outros povos, pois esse trecho faz limite com a FLOTA. Entre os dias 16 e 17 de outubro, ocorreu a limpeza do Igarapé Juminã. Cerca de 74 homens das aldeias da TI Juminã, realizaram o trabalho de limpeza do igarapé que dá acesso às aldeias da TI. A limpeza consistiu em retirar restos de árvores que caíram no leito do Igarapé, dificultando a navegação das canoas e o acesso dos indígenas às suas aldeias.
Nos dias 22 e 23 de outubro, uma equipe com aproximadamente 40 indígenas das aldeias da TI Galibi, acompanhados de membros da Polícia Militar, da Polícia Civil, da FUNAI e CTL Oiapoque, realizaram uma expedição de vigilância, nos limites terrestres da TI Galibi.
Essa preocupação e cuidados dos indígenas do Oiapoque com o limite das suas TIs vem logo após o processo demarcatório das Terras Indígenas Uaçá, Galibi e Juminã, quando as lideranças antigas perceberam a necessidade de realizar as práticas de monitoramento e vigilância dos limites de suas terras.
Domingos Santa Rosa, que foi uma importante liderança Galibi Marworno e técnico da FUNAI, relatou que no ano de 1992, logo depois da demarcação das TIs do Oiapoque, houve uma grande assembleia na qual decidiram como seria a distribuição das equipes indígenas de vigilância entre os quatro povos, levando em consideração as cinco regiões da ocupação da TI, a partir da divisão de trechos entre os marcos demarcatórios de todo o contorno das Terras Indígenas.