Durante os dias 08, 09 e 10 de junho de 2017, mais de 150 jovens dos povos Karipuna, Galibi Marworno, Palikur e Galibi Kali’na reuniram-se na aldeia palikur do Kumenê (Terra Indígena Uaçá) para debater a posição dos jovens indígenas, sua relação com o mundo não indígena e seu envolvimento na gestão socioambiental das suas terras. Foram discutidas temáticas relacionadas ao movimento indígena, aos direitos e políticas diferenciadas para os povos indígenas e ao futuro dos seus povos e terras indígenas frente ao negativo cenário atual. Além do coordenador do Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), Gilberto Iaparrá, e dos caciques, Josieldo Labontê Orlando, Henrique Leôncio, Lindacir dos Santos, Josimar Forte e Edimar dos Santos, do vereador indígena Matias Labontê, e da liderança das mulheres Galibi Marworno Elza dos Santos Figueiredo, o encontro contou com a participação das professoras indígenas da Universidade Federal do Amapá, Rosilene Tuxá e Claudiane Menezes, assim como dos representantes da FUNAI, Paulo Artur dos Santos Negreiros (coordenador regional), Moahra Fagundes, Afonso de Jesus Rodrigues, Gregório Lod e Haroldo dos Santos, e do Iepé, Rita B. Lewkowicz e Gina Marcela Feitosa.
O primeiro dia do encontro dedicou-se ao debate sobre o movimento indígena local e nacional, fazendo um panorama desde a organização dos grupos de jovens nas aldeias até o último Acampamento Terra Livre em Brasília. A discussão, mediada pela professora Rosilene Tuxá, proporcionou um espaço de trocas de experiências e expectativas entre as/os jovens das cinco regiões do Oiapoque.
“Movimento indígena é o que está acontecendo hoje, é uma organização em que participam as lideranças de todas as regiões, para lutar e garantir os direitos todos juntos. É não deixar que só um lute pela gente. Se lutarmos juntos com certeza garantiremos os direitos que queremos” (Emison dos Santos, 22 anos, aldeia Espírito Santo)
No segundo dia do encontro, contou-se com a presença do sábio palikur Wet, contando histórias sobre os diferentes seres que vivem na região, aqueles que só o pajé consegue ver, mas todos podem perceber a sua ação: são eles que levam e trazem os peixes e os pássaros, como também são eles que causam as chuvas e as grandes tempestades nas diferentes estações do ano. Contou histórias das origens de certas constelações, da relação da cobra de três cabeças e do kayeb e da importância de manter um ambiente equilibrado para viver bem e garantir o alimento das futuras gerações. Lembrou a época em que as pessoas matavam os pássaros apenas com arco e flecha, relatando sua preocupação com o excessivo uso da espingarda hoje em dia, pois seu barulho assusta e espanta os pássaros e outros animais e assim eles não querem mais voltar. Frente ao público jovem, reforçou a importância de respeitarem a palavra do cacique, principalmente no sentido de seguir os acordos estabelecidos com relação a onde, quando e o quanto caçar e pescar, pensando no futuro de todos.
“O olhar dos jovens indígenas para as suas comunidades” foi o foco dos grupos de trabalho por região (Rio Oiapoque, Rio Curipi, Rio Uaçá, Rio Urukauá e BR156), buscando refletir sobre as fortalezas, fraquezas, oportunidades e ameaças características de cada contexto. Essa reflexão foi apresentada por meio de dramatizações teatrais, nas quais foram enfatizados os problemas relacionados à desarticulação das comunidades, ao uso de bebidas alcoólicas, às invasões e assaltos à terra indígena, ao lixo nas aldeias e à desvalorização da cultura indígena por parte dos jovens. Por outro lado, apontou-se a importância do movimento indígena como um laço de fortalecimento dos jovens e suas lideranças, lembrando também os nomes dos antigos caciques que lutaram para garantir a terra demarcada que se tem hoje.
Além disso, o encontro contou com um momento de discussão sobre os direitos dos povos indígenas e as políticas diferenciadas, mediado pelos representantes da FUNAI. Foi realizado um levantamento sobre os direitos que os jovens conheciam e foram feitos esclarecimentos sobre cada um desses direitos garantidos. Debateu-se também sobre o preocupante cenário político atual, que ameaça essas conquistas e pode afetar gravemente os povos e terras indígenas.
Frente a tal contexto, propôs-se a discussão sobre como os jovens indígenas planejam enfrentar esse cenário, pensando no futuro. Por um lado, enfatizaram que “o futuro não é apenas o amanhã, mas também o agora” e que “os jovens já estão atuando no presente”; por outro lado, reforçaram sua preocupação com os problemas socioambientais que já vem enfrentando e que tendem a se agravar no futuro, tais como o petróleo, a soja, o desmatamento e a poluição. A discussão foi mediada pela professora Claudiane Menezes, reforçando a necessidade de pensar conjuntamente os temas “cultura e meio ambiente”, pensando nos modos de vida dos povos indígenas e sua relação com o território, e provocando os jovens a planejar o cuidado com as suas terras.
O IV Encontro dos Jovens Indígenas do Oiapoque foi organizado pelos representantes dos jovens indígenas das cinco regiões, com apoio do Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena – Iepé e da FUNAI, com apoio da Embaixada da Noruega.