No período de 10 de julho a 05 de agosto foi realizada a terceira etapa do Curso de Formação dos Agentes Socioambientais Indígenas do Oiapoque (AGAMIN), no Centro de Formação na TI Uaçá. A etapa iniciou-se com o segundo módulo da disciplina “Modelos de Desenvolvimento e Terras Indígenas”, ministrada por Ana Marcela Sarria, trazendo elementos históricos e geopolíticos do discurso do desenvolvimento, situando suas dimensões globais e seus efeitos locais. Através da construção de uma linha do tempo com as transformações que já ocorreram nas aldeias do Oiapoque, foi possível traçar as relações dessas mudanças com os projetos de desenvolvimento na região. Além disso, com a apresentação da experiência de outros povos indígenas na América Latina, abordou-se os impactos desses projetos dentro e fora das terras indígenas, buscando olhar para o desenvolvimento de forma crítica.
A segunda disciplina, ministrada por Roselis Masurek, dedicou-se ao tema das “Práticas de Manejo Sustentável”. Retomou-se a experiência de projetos de manejo que já foram realizados na região do Oiapoque, assim como em outras regiões do país, avaliando os motivos pelos quais certos projetos dão certo e outros não, e reforçando a necessidade do monitoramento para realizar essa avaliação.
Foi realizada uma saída de campo à aldeia Açaizal, na qual os estudantes puderam acompanhar as experiências de manejo de açaí, banana, citros e o meliponário comunitário que vêm sendo realizadas na aldeia. Destacaram, a partir da visita, a importância da organização da comunidade para fazer projetos coletivos, da autonomia que os indígenas do Açaizal já tem com relação a certas técnicas aprendidas, e da relevância de projetos como estes. Segundo Sedrick Aniká dos Santos: “o manejo é importante para trazer benefícios para comunidade, mas também para a comunidade ter um outro olhar para a natureza, se envolver no cuidado, trazer a preocupação para o meio ambiente e sua importância para a subsistência e sobrevivência dos povos indígenas”.
A disciplina promoveu um espaço de troca de conhecimentos sobre uma variedade de espécies de peixes, plantas, aves, animais terrestres, sobre os quais os agentes socioambientais discutiram detalhes a respeito de seus comportamentos, da época de reprodução, das migrações sazonais, aparência física, assim como as formas de relação dessas espécies na vida dos povos indígenas do Oiapoque.
Além disso, contou-se com a participação da acadêmica karipuna, Priscila Barbosa de Freitas, que apresentou seu trabalho de conclusão do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da UNIFAP, intitulado “Conhecimento etnoecológico e conservação dos recursos pesqueiros na Terra Indígena Juminã”, compartilhando com os agentes ambientais em formação a sua experiência no processo de elaboração dos acordos de pesca na região do Rio Oiapoque.
A terceira disciplina, ministrada por Felipe Garcia, foi o segundo módulo de “Produção e Sustentabilidade”. Discutiu-se a dimensão econômica da gestão socioambiental das terras indígenas, retomando os conceitos de produção, distribuição, troca e consumo, como também as diferentes formas de trabalho, comparando a economia indígena e a economia capitalista. Emergiram discussões a respeito do assalariamento nas aldeias, do consumo de produtos industrializados e do aumento da pressão sobre recursos naturais dentro e fora das terras indígenas, considerando os diversos empreendimentos no entorno das TIs como a BR156, aumento da área das fazendas, a chegada das petroleiras, da soja, entre outros. Através da construção de uma grande teia que entrelaçou os diferentes conceitos estudados na disciplina, refletiu-se sobre a inter-relação e referenciação mútua entre os diferentes pontos da rede.
A última disciplina desta etapa foi “Práticas e conhecimentos sobre agricultura e alimentação”, ministrada por Jessica Pedreira e Namastê Maranhão, com foco na agrofloresta. Iniciou-se com a comparação entre a agricultura indígena e a agricultura industrial, a fim de entender a forma pela qual o agronegócio se constitui como um pacote tecnológico, igual em qualquer contexto. Por outro lado, a disciplina introduziu a discussão sobre formas outras de fazer agricultura, pensando no quanto as diferentes formas de classificação das plantas refletem conhecimentos diferentes sobre o lugar, sobre as espécies, sobre o ambiente. A partir dos princípios da agrofloresta, dialogando com os conhecimentos indígenas, foi iniciada uma parcela agroflorestal experimental no centro de formação.
A etapa contou com a participação e colaboração do Sr. Domingos Santa Rosa, da coordenação técnica local de etnodesenvolvimento da FUNAI/Oiapoque. O curso de Formação de Agentes Socioambientais Indígenas do Oiapoque (AGAMIN) é uma conquista dos povos indígenas, assumindo o protagonismo da gestão socioambiental de suas terras. O curso é realizado em parceria pelo Iepé e TNC, no âmbito do projeto “Fortalecimento da Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas na Amazônia como estratégia de controle do desmatamento e de promoção do bem estar das comunidades indígenas” apoiado pelo Fundo Amazônia (BNDES).