O Iepé realizou, entre os dias 11 e 30 de junho, na aldeia Parapará, Terra Indígena (TI) Rio Paru d’Este, a 4ª Etapa da Formação em Gestão Territorial e Ambiental de Jovens e Lideranças do Tumucumaque Leste. Participaram dessa Formação, que conta com o apoio do Fundo Amazônia/BNDES, 50 pessoas, entre jovens e lideranças das aldeias da porção leste das TIs Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este, além de três jovens da porção oeste, em intercâmbio para conhecer essa porção do Complexo Tumucumaque, e acompanhar as discussões que dizem respeito às suas terras como um todo. Durante esta etapa, as atividades se dividiram em três módulos de uma semana cada: no primeiro foi realizada uma Oficina de PGTA, o segundo sobre Agroecologia, e o terceiro, Oficina de Planejamento e Formação de Jovens para Ações de Monitoramento Territorial, contando com a presença de servidores da FUNAI.
A Oficina de PGTA procurou aprofundar com os participantes o entendimento dos eixos de seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental, bem como o monitoramento do mesmo, que já está em andamento. Discutiu-se sobre a Linha do Tempo da elaboração desse PGTA e também se trabalhou em grupos com a tradução do Plano de Monitoramento das ações propostas. Neste módulo, além da equipe do Iepé
(Cecília de Santarém, Jeciane Souza), contou-se com a presença de Cecília Awaeko Apalai (presidente da APIWA) e de Iori Linke (FPEC/Funai). O cacique Aretina Tiriyó, morador da porção oeste, também se juntou ao grupo, contribuindo com sua experiência enquanto cacique e conselheiro do Mosaico de Áreas Protegidas da Amazônia Oriental.
O segundo módulo, Agroecologia, foi facilitado por Nacip Mahmud, agrônomo e integrante da equipe do Programa Tumucumaque/Iepé, contando com o apoio de Evandro Bernardi, que também integra este Programa. Realizado de 18 a 22 de junho, este módulo discutiu os seguintes temas: História da Agricultura; Introdução à Agroecologia; Solos – a terra tem vida; Agroecologia e Bem viver; e Políticas Públicas para a Agricultura Familiar (PRONAF, PAA, PNAE), trazendo exercícios práticos e em grupo, além de discussões coerentes com a realidade dessas terras indígenas, como o porquê do desenvolvimento dificultoso de roças nos arredores de aldeamentos populosos.
Também foi discutido o uso de agrotóxicos na produção de alimentos na agricultura moderna, e a contaminação dos recursos naturais e humanos pelo uso indiscriminado destes venenos. Houve também troca de informações sobre as experiências desenvolvidas nas aldeias da TIs Parque do Tumucumaque e Paru d’Deste, sobre os temas de meliponicultura, roças e plantios consorciados, manejo de açaí, manejo do fogo e manejo da castanha nas aldeias. Conforme observou Araimaré Wajãpi Wayana, a demarcação das terras é um direito fundamental, mas que também impõe desafios:
“Com a TI demarcada fica cada vez mais difícil ter à disposição mais áreas com solos férteis para o plantio. Por isso deve-se ter bastante cuidado com o solo. A população vai crescer e a terra não. Por isso tem que se achar formas de recuperar a terra, cuidar do solo”.
A expressiva agrobiodiversidade dos cultivos da região também foi assunto de discussões e exercícios, valorizando-se especialmente o conhecimento que as mulheres indígenas têm de suas roças. Outra atividade que mobilizou os participantes da formação foi a elaboração de mapas etnográficos, a partir de pontos de GPS coletados pelos alunos no intervalo entre essa e a etapa anterior, promovendo a construção conjunta, com conhecimentos dos velhos e dos jovens, do modo como se entende a territorialidade da região.
O terceiro módulo, Oficina de Planejamento e Formação de Jovens para Ações de Monitoramento Territorial, foi realizado de 25 a 30 de junho, tendo como facilitadores os servidores da Funai, Marcos Velho (FUNAI – CRANP – MCP), João Benedito (CGMT – DF), Francisco Paes (Funai-BA) e Natanael Braga (FUNAI – CRANP – MCP). Também acompanharam este módulo, Cecília Awaeko Apalai (Presidente da APIWA) e membros da equipe do Iepé (Décio Yokota, Jeciane Souza e Nacip Mahmud). Nessa semana, foram realizados dois sobrevoos em áreas previamente combinadas, a partir dos quais foram entabuladas discussões acerca da importância do monitoramento e de como fazê-lo, incluindo oficinas de uso de GPS e de protocolos de conduta em caso de encontros com invasores e imprevistos nas expedições.
Também durante essa semana foi pactuada uma agenda de expedições de monitoramento territorial, já inaugurada com uma expedição ao limite sudeste da TI Rio Paru d’Este, nas proximidades da aldeia Parapará, incluindo o plaqueamento da área. A aldeia do Parapará, na TI Paru d’Este é uma aldeia importante dentro do planejamento de monitoramento da terra indígena, por estar localizada às margens do Rio Paru d’Este, à aproximadamente 25,0 km do limite físico desta TI. Esta expedição de monitoramento deve como objetivo consolidar o conhecimento do uso das ferramentas de GPS, reavivar o conhecimento sobre os limites da Terra Indígena e colocar as placas de identificação da FUNAI, sobre o início da Terra Indígena Paru d’Este. As noites da 4ª Etapa da Formação contaram com a exibição de filmes. Essa 4ª Etapa foi encerrada com uma festa em comemoração à conclusão de mais um ciclo de formação.