“Se a gente conseguir mostrar para o mundo que a gente consegue manter a floresta de pé e gerar renda para quem vive nela sem destruir, eu acho que não tem preço”, diz Arlete Pantoja, presidente da Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari.
Junto a outras famílias da região do Rio Araguari, no Município de Porto Grande, Amapá, Arlete está vendo sua vida ser transformada por meio da associação. Juntas, elas produzem cosméticos artesanais que respeitam – e dependem – da floresta em pé.
A fonte das matérias-primas são árvores da Floresta Estadual do Amapá que, de geração em geração, são conhecidas pelas famílias por suas propriedades medicinais, pelos benefícios à saúde, pelo cheiro, ou tudo isso ao mesmo tempo. “As árvores são tudo para nós. A gente está dependendo delas. A gente quer é que elas cresçam e sirvam para nós. Ou até mesmo para os nossos netos que vão nascer depois”, diz Rosalva Souza da Mota, uma das associadas.
Com o apoio de instituições como o ICMBio, Sebrae e o Instituto Iepé, elas profissionalizaram a coleta e a produção, unindo saberes tradicionais ao empreendedorismo. Por onde passam, os sabonetes, velas e pomadas da Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari são um sucesso.
Alternativa ao garimpo
A produção de cosméticos artesanais pelas famílias do Rio Araguari surgiu como alternativa de geração de renda depois que um garimpo foi desativado por estar ilegalmente ativo dentro da área, que é uma Unidade de Conservação. Muitas das famílias dependiam do garimpo, mesmo que não fossem atuantes na extração de ouro. Algumas, por exemplo, vendiam sacas de farinha aos garimpeiros que subiam e desciam pelo rio constantemente.
“O garimpo era de onde vinha a renda para dentro do Rio Araguari. Quando fechou, ficamos sem saber o que fazer. Vocês podem imaginar? Tiraram os pés de todo mundo do chão”, conta Arlete. “Depois que os funcionários do ICMbio fecharam o garimpo, eles se aproximaram de nós dizendo que a gente precisava se organizar e buscar outros recursos para a comunidade”. Isso, como ela conta, foi a semente para que as famílias entendessem o potencial que tinham para o extrativismo, afinal, já viviam dentro da floresta.
O resultado, hoje, vai além dos produtos que respeitam a floresta em pé e não geram impactos ambientais, nem sociais, como o garimpo. Entre as extrativistas há um evidente sentimento de realização, tanto pela renda gerada, quanto pelos conhecimentos adquiridos com a nova profissão e, principalmente, pela independência financeira das mulheres.
“A associação é das mulheres. Elas que têm que fazer o trabalho duro, não ficar esperando talvez o marido”, diz Gilmara da Silva Vasconcelos. Ela estava com seus dois filhos nos dias de produção de sabonete que acompanhamos, na casa de Gabriel Tavares Gonçalves, na beira do Rio Araguari. “Independência é a gente botar a mão na massa e trabalhar, mesmo suado, para ter uma rendazinha”, completou Gilmara.
Além de Gabriel, só há mais três homens que compõem a associação junto a 27 mulheres. E o protagonismo, todos fazem questão de ressaltar, é delas. Quando começaram a aprender a fazer sabonetes, foram elas que estiveram à frente da coleta, da produção e das vendas. E decidiram fundar a associação dando destaque a esse trabalho feminino.
“A gente não pode dispensar os homens porque são eles que ajudam quando precisa de força, ou pra entrar na mata, abrir os caminhos”, explica Rosângela Souza da Mota.
Nova unidade e planos para o futuro
Com o apoio do Iepé, a Associação está aprimorando sua comunicação para expandir as vendas e, também, construindo uma unidade de beneficiamento na beira do Rio Araguari, que permitirá o aumento dos produtos e ainda mais profissionalização. Atualmente, a produção é toda feita na casa das associadas, ou na de seu Gabriel, onde estivemos em outubro para produzir os vídeos que acompanham este texto.
“Eu quero agora que nossos produtos sejam reconhecidos pelo Brasil inteiro e que as pessoas deem valor no nosso trabalho porque o que a gente faz hoje aqui a gente faz por amor. Eu queria que as pessoas comprassem os produtos para sentir a fragrância que é da natureza”, diz a associada Rosalva.
Para Arlete, o sonho é concretizar a expansão da associação e a fonte de renda das mulheres da região. “Você viu que aqui no Araguari, a maioria das pessoas são quase a minha família. Já imaginou um dia eu ver minhas parceiras tendo a oportunidade de se formalizar, cada uma recebendo o seu salário?”
Érica Mota é uma das mais jovens e concorda com Arlete. “O meu sonho para associação é multiplicar as mulheres, multiplicar o trabalho e ter muito mais locais de venda. Ter uma renda maior e poder dar um salário mínimo e uma condição melhor para cada um”, diz.
“Eu queria dizer para as pessoas que nunca vieram aqui conhecer o Rio Araguari, no estado do Amapá, que podem vir conhecer as riquezas que a gente oferece para eles”, convida Rosalva.