Nos dias 22 e 23 de outubro de 2016 foi realizada a IV Assembleia da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão – AMIM na aldeia Manga, Terra Indígena Uaçá, município do Oiapoque/AP. A assembleia contou com a participação de aproximadamente 170 mulheres das etnias Karipuna, Galibi Marworno, Palikur e Galibi Kali’na, de variadas idades e habitantes das diferentes regiões do Baixo Oiapoque. Também estiveram presentes caciques, lideranças, e representantes da FUNAI, do Iepé, da TNC e da GESCON.
As participantes reuniram-se durante esses dois dias para conversar sobre diferentes temáticas, destacando-se a participação da mulher no movimento indígena, o fortalecimento das organizações das mulheres e a importância das mulheres indígenas estarem unidas e articuladas, de mãos dadas, para conquistar seus direitos. Hoje em dia, a AMIM se destaca por ser a única associação que representa os quatro povos indígenas do Baixo Oiapoque.
A primeira mesa da assembleia foi dedicada ao relato da história da AMIM. As sócias fundadoras da associação assumiram a mesa e contaram a sua história, relatando como a associação foi criada, quais as dificuldades enfrentadas e superadas, e a importância das mulheres trabalharem juntas para garantir o futuro de suas comunidades.
“Por meados de 2006 as mulheres indígenas tomaram a iniciativa de criar uma associação para contribuírem e terem o direito de serem ouvidas. Desde então, muitas portas foram abertas, as mulheres hoje tem o mesmo papel de um homem líder indígena, de opinar nas decisões que vem sendo tomadas” (apresentação do grupo do Rio Oiapoque).
O relato das fundadoras revelou a dedicação dessas mulheres mais velhas para conquistarem seu espaço no movimento indígena e para manterem a associação das mulheres atuante, agora completando 10 anos. Apresentaram os frutos colhidos e jogaram novas sementes, ressaltando a importância das jovens se envolverem no movimento. De fato, houve uma grande participação das jovens indígenas, assumindo a frente na organização e na condução da assembléia. Como a frase de Dona Verônica, cacica da aldeia Curipi, que ecoou em diversas falas ao longo do encontro: “chegou a hora das mulheres ficarem por cima”.
A importância da articulação das mulheres no movimento indígena destacou-se também no relato sobre o II Encontro de Mulheres Indígenas do Amapá e Norte do Pará, realizado em Macapá neste mesmo ano. As mulheres indígenas do Oiapoque que participaram do evento apresentaram para a assembleia as temáticas discutidas no encontro e a importância das trocas de conhecimento e de sementes entre as mulheres de diferentes povos: Wayana, Aparai, Tiriyó, Katxuyana, Txikyana, Wajãpi, além de várias convidadas vindas de outras regiões do país. Ressaltaram as diferenças entre as visões das mulheres de cada povo indígena, especialmente sobre o que entendem por “bem-viver”. Uma das participantes, Janina dos Santos Forte, apontou para a importância de encontrar mulheres indígenas de outros povos para pensar sobre si mesmas, sobre a necessidade de olhar para dentro das suas próprias terras indígenas e perceber a importância daquilo que está perto, no cotidiano.
Houve uma preocupação das organizadoras da assembleia que todas as refeições fossem baseadas na culinária regional, destacando-se pratos como o mingau de cará, macaxeira, daxina, caxixi, jacaré, e diversos outros peixes da região. A cozinha, desta vez, ficou sob responsabilidade dos homens da comunidade, sendo sua contribuição para assembleia das mulheres.
A assembléia da AMIM deste ano focou-se principalmente na reestruturação da associação, em reforçar a importância de uma organização e o papel que cada uma tem nela. Foi o ponto culminante das reuniões regionais de fortalecimento institucional realizadas durante o mês de setembro nas aldeias, e também das orientações apresentadas inicialmente pela consultoria contábil/administrativa da AMIM (realizada pela GESCON, como parte do Projeto TNC/Iepé de fortalecimento institucional da AMIM), cujos resultados também foram apresentados na assembleia.
Além disso, foi realizada a admissão de novas sócias e foi aprovada a reforma do estatuto da associação. Por fim, houve a eleição de uma nova diretoria, em que a senhora Bernardete dos Santos assumiu a presidência, ao lado de Bruna dos Santos Almeida (Secretária), Claudia Renata Lod Moraes (Coordenação Administrativa), Lilia Ramos Oliveira (Coordenação Financeira). Foram eleitos também membros para o Conselho Fiscal e as coordenadoras regionais das seis regiões do Baixo Oiapoque.
“A mulher no movimento indígena vem conquistando direitos e benefícios, espaços e reconhecimento enquanto lideranças, abrindo caminhos para novas conquistas, lutando para a afirmação do seu povo, da sua cultura, para construir um futuro melhor.” (Claudia Renata Lod Moraes)