Entre os dias 20 e 29 de junho de 2019, um grupo formado por cinco indígenas Wayana do Suriname esteve na aldeia Bona, na Terra Indígena Parque do Tumucumaque, participando das atividades do Projeto Orixiyana, a convite da Associação dos Povos Indígenas Wayana e Apalai (APIWA). O principal objetivo dessa visita foi conhecer o que os Wayana e demais povos que habitam as Terras Indigenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este estão fazendo, no Brasil, para proteger e assegurar seus direitos territoriais. Jupta Itoewaki, presidente da Fundação Mulokot (aldeia Kewemhakam), Ipomadi Pelenapin (aldeia Lawa), Johan Neni e Gilbert Koemaja (Apetina) e Brayen Pakome Huwa (aldeia Palumeu), primeiramente estiveram em Macapá onde fizeram visitas às sedes do Iepé e da APIWA. Acompanhados por Kutanan Wayana, Arinawaré Wayana e Ariné Apalai os visitantes foram até o Museu Sacaca onde puderam ver o trabalho de construção de uma casa tradicional wayana. No dia 21 de junho o grupo seguiu de frete aéreo para a aldeia Bona onde acompanhou a oficina do Projeto Orixiyana, que está sendo executado pela Articulação de das Mulheres Indigenas Wayana e Apalai, em parceria com a APIWA e o Iepé. Também participaram da Oficina de Monitoramento e Proteção Territorial realizada por uma equipe da FUNAI.
Impressões sobre a visita a aldeia Bona
“Quando vim para cá, vi todos com suas roupas tradicionais e eles não se envergonham disso. Se pedirmos nas nossas aldeias que usem as suas, eles não o fariam porque têm vergonha disso (…). Então isso foi uma coisa que me chamou a atenção primeiro. Além disso, todo mundo vem para as reuniões aqui, na minha aldeia, eles não estão realmente interessados em reuniões, eles diriam: — Oh, nós não somos líderes então não iremos, é apenas para os líderes. Enquanto aqui eu vejo bebês, adultos e mulheres. Outra coisa que achei muito interessante é a participação das mulheres daqui, enquanto em algumas das nossas aldeias no Suriname, as mulheres nunca falam, só os homens falam. Além disso, o que me chamou a atenção é o jeito muito tradicional da maioria das casas, com telhado de palha. Nós já construímos nossas casas com concreto, e usamos camas em vez de redes.
Sempre que as pessoas vêm à nossa aldeia, geralmente pensam que vão para uma aldeia muito tradicional, onde pintamos rostos e usamos penas. Mas esse não é o caso lá. (Jupta Itoewaki).
“As coisas que chamaram minha atenção foram todos os Wayana e Apalai em suas roupas tradicionais e a participação da mulher, e, eles falam apenas em sua própria língua primeiro, depois disso, traduzem para os demais poderem entender.” (Ipomadi Pelenapin).
Sobre intercâmbios futuros
“Uma das coisas que queremos é continuar essa conexão que fizemos aqui, que é importante para todos. Nós queremos manter isso porque para nós não há realmente nenhuma fronteira, somos apenas todos Wayana. Portanto, mesmo que sejamos, por exemplo, apenas 400 Wayanas no Suriname, se contarmos o Brasil, a Guiana Francesa e nos mobilizarmos e nos unirmos, nos mostraremos mais fortes para os governos. Para nós, existem essas leis internacionais que dizem que não temos fronteiras e que o governo não deve nos impedir se quisermos nos reunir ou ter nossas próprias reuniões e nossas próprias instituições. Para mim o que é importante, é manter o contato com o Brasil e com os Wayana, então, chegamos aqui e talvez no próximo ano alguns Wayana e Apalai possam ir nos visitar lá” (Jupta Itoewaki).
Para Cecília Apalai presidente da APIWA, a visita dos Wayana mostrou que “(…) mesmo com as diferenças que existem entre os Wayana do lado do Brasil e os parentes do lado do Suriname nós somos um mesmo povo, e podemos aprender uns com os outros, e, principalmente, que podemos juntos lutar pelos nossos territórios”.
A visita do grupo Wayana ao Brasil foi apoiada pela Nia Tero em parceria com o Iepé e APIWA.