Formação de Agentes Socioambientais Wajãpi: curso no Centro de Formação e acompanhamento nas aldeias da região da estrada Perimetral Norte

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12º módulo da formação de ASA

Entre os dias 10 e 20 de julho ocorreu o 12º módulo da formação de Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA) no Centro de Formação e Documentação Wajãpi, na Terra Indígena (TI) Wajãpi. Neste módulo, foi ministrada a disciplina “Práticas e Conhecimentos sobre Agricultura e Alimentação”, pelo consultor Felipe Garcia e pela equipe do Programa Wajãpi do Iepé (Isabel e Lúcia).

Durante o módulo, foi feita uma revisão e aprofundamento dos conteúdos da disciplina apresentados nas etapas anteriores, com destaque para as diferenças entre as formas de produção agrícola indígenas e não-indígenas e para conceitos relacionados a estes tipos de produção: monocultura, agrobiodiversidade, agrotóxicos, escoamento, produção em larga e pequena escala. Além dos conceitos, foram discutidas as implicações e objetivos de diferentes sistemas de produção agrícola – a relação entre a escala da produção, a forma de trabalho (assalariada, familiar, mutirão), a tecnologia empreendida (maquinário, insumos químicos, conhecimentos tradicionais), as variedades cultivadas e as finalidades (consumo, comercialização, ambos). Por fim, os ASA discutiram, a partir de textos e vídeos, sobre a relação entre produção agrícola, alimentação e saúde, considerando os riscos da comida processada e com agrotóxicos para a saúde humana.

Os ASA discutiram a variedade da produção de suas roças e produziram conjuntamente material sobre a forma de produção da agricultura wajãpi. A partir da releitura de textos produzidos pelos ASA na primeira etapa desta disciplina, os agentes elaboraram conjuntamente um roteiro, desenhos e textos mais detalhados sobre o modo wajãpi de fazer roça, plantar e cuidar das plantações, formas de trabalho na roça e de alimentação no dia-a-dia. Com o intuito de valorizar e visibilizar para fora da TI o trabalho e conhecimento dos Wajãpi sobre agricultura, os ASA praticaram pequenas apresentações orais individuais sobre este tema a partir do material elaborado.

 

Desenhos elaborados pelos ASA sobre a forma de produção da agricultura wajãpi                                                   

Nos últimos dois dias do módulo, foi feita uma breve avaliação sobre o processo de formação dos ASA como um todo, e levantadas ideias dos ASA para fortalecer e dar continuidade a seu trabalho, com foco em atividades práticas e nas aldeias, de maneira a envolver mais as comunidades.

Atividade de acompanhamento dos ASA nas aldeias da estrada Perimetral Norte

O acompanhamento dos ASA na região da estrada foi realizado pelo consultor Felipe Garcia com 11 ASA (Jakyri, Janaima, Jatuta, Kupena, Mego, Sikomã, Marate, Nazaré, Pauri, Nuwara, Japukuriwa), planejado para ocorrer entre os dias 23 e 30 de julho. Os dois primeiros dias do acompanhamento foram dedicados a planejar e preparar as ações a serem desenvolvidas nas aldeias – com a definição dos temas que seriam abordados nas reuniões com as comunidades roteiro de perguntas para as donas das roças e monitoramento dos experimentos, bem como quais ASA ficariam responsáveis pela condução das reuniões – e finalizar a apresentação de slides sobre agricultura iniciada durante o módulo da disciplina “Práticas e Conhecimentos sobre Agricultura e Alimentação”. A cada dia, depois dos trabalhos nas aldeias, ficou combinado que os ASA retornariam ao CFDW para discutir e sistematizar o que foi conversado com as comunidades, produzindo breves relatórios diários sobre seus trabalhos.

Nos dias 25 e 26 de julho, foram realizadas reuniões nas aldeias Okora’yry e Cachoeirinha, com a participação dos moradores da aldeia CTA nesta última. Nas reuniões, os ASA falaram sobre o Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi e o trabalho dos ASA, inclusive sobre os experimentos; informaram sobre temas que aprenderam durante o curso relacionados às formas de produção agrícola dos não-indígenas e os problemas de saúde associados ao consumo de alimentos industrializados e agrotóxicos; falaram sobre como os fundos de vigilância podem apoiar a mobilidade territorial dos Wajãpi. Os ASA também visitaram uma roça em cada aldeia, entrevistando suas donas para avaliar como as variedades estavam crescendo e sobre as condições dos locais escolhidos para fazer as roças.

Na aldeia Okora’yry surgiram propostas da comunidade para melhorar o trabalho dos ASA, como promover o trabalho conjunto entre os agentes indígenas socioambientais, de saúde e professores, planejar mais reuniões nas comunidades para levar informações e sobre o interesse da comunidade em plantar mudas de frutíferas. As mulheres da aldeia conversaram com as mulheres ASA sobre os temas discutidos entre os homens na reunião, com especial atenção à explicação sobre os experimentos dos ASA, alimentação e consumo de agrotóxicos e sobre a ocupação dos limites da TIW. Já na aldeia Cachoeirinha também aparece a proposta de um trabalho conjunto entre ASA e professores. Os moradores das aldeias Okora’yry, Cachoeirinha e CTA agradeceram as informações levadas pelos ASA e querem que continuem este trabalho; alguns também entenderam melhor o objetivo do experimento de plantio de árvores feito pelos ASA, algo que não é tradicionalmente feito pelos Wajãpi. Além das reuniões, os ASA também visitaram as roças próximas às aldeias e o experimento de um dos ASA no Okora’yry.

Embora estivessem previstas reuniões e acompanhamentos em outras aldeias (Pinoty, Kuruwaty e Pijowi) não foi possível seguir o cronograma estabelecido em função das notícias de invasores na TIW e o consequente envolvimento dos ASA na tentativa de resolução do problema.

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