Texto: Thaís Herrero | 01 de julho de 2021
Na camiseta, o desenho mostra uma mulher com pinturas no rosto simbolizando uma máscara e a frase “Máscara não tira o ar nem a voz, ela previne para se ter ar e voz amanhã”.
A estampa foi feita por um grupo de indígenas durante uma oficina de serigrafia no final de maio, organizada pela Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM) em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), Instituto de Formação e Pesquisa Indígena – Iepé e o projeto Akari, na aldeia Kumarumã, da etnia Galibi Marworno, localizada na região do Rio Uaçá, no Oiapoque (AP).
Trinta pessoas participaram, entre homens e mulheres de diferentes idades e de diferentes aldeias (aldeias Tukuiwin, Flamã, Arawatu, Biscoit, Pukuhú, Paramuaká, Kaxiuahi, Karibuem, Paraíko, Magi, Manaú e Kumarumã). A atividade foi conduzida por Davi Marworno com o apoio de Keila Palikur, acadêmica no curso de Licenciatura Indígena, Caviano Forte, Agente Ambiental Indígena (AGAMIN), e Marcelo Domingues, assessor do Programa Oiapoque, do Iepé.
A proposta da oficina de serigrafia foi levar a técnica para os indígenas para que eles possam fazer seus produtos e gerar renda com as vendas, a partir da valorização de sua arte e talento. Foi a terceira oficina realizada pela AMIM e seus parceiros como parte de um ciclo de capacitação, que já passou por três regiões das quatro Terras Indígenas do Oiapoque, somando 150 participantes. A meta é atender todas as regiões para que mais indígenas possam aproveitar o ateliê que está sendo implantando no Oiapoque.
Segundo Milton Nunes, a mensagem da camiseta foi pensada para os indígenas que não se adaptaram ao uso de máscaras mesmo depois de mais de um ano de pandemia, nem à rotina de mais isolamento. “Essa mentalidade que muitos indígenas têm no Brasil, de que a máscara é uma coisa de uma cultura diferente, que incomoda e tira o direito da sua voz, é uma visão totalmente equivocada,” explicou.
Além desse, outros desenhos foram desenvolvidos. Os participantes foram orientados a criar as estampas baseadas em suas referências cotidianas, valorizando seus universos simbólicos, suas histórias e seus conhecimentos.
Elielson Nunes Chaves contou que a oficina foi muito proveitosa, já que teve parte teórica e prática, sendo bastante útil para as aldeias. “Até agora nós tínhamos que comprar nas cidades as camisetas e materiais para as reuniões, eventos ou para as atividades da escola. Agora que temos conhecimento, vamos dar continuidade à produção e fazer aqui. Foi a primeira vez que a gente teve essa aula sobre serigrafia e a gente precisava mesmo”, disse.
Após o término da oficina, a AMIM disponibilizou as ferramentas para a comunidade montar seu próprio ateliê. Foram doados: uma mesa de luz, rodo (puxador), espátulas, tintas, cola permanente, solventes e tecido poliéster.
Milton também acredita que a oficina foi muito válida. “Como professor e líder da juventude, acho que a oficina de serigrafia foi muito importante. Ela soma conhecimento aos nossos jovens e ajuda na integração deles no meio social. E isso trouxe para nossa juventude um ponto de vista a mais em relação a nossa realidade.”
Essas oficinas dão continuidade aos trabalhos de corte e costura depois da primeira etapa em 2020, quando a AMIM comprou máquinas para a confecção de máscaras nas aldeias em razão da pandemia. A compra foi feita com apoio da Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e do Fundo Casa para a capacitação de jovens e mulheres para trabalhos comunitários, contribuindo com a valorização dos produtos e gerando renda.