Texto: Thaís Herrero | 05 de julho de 2021
“A castanha-do-brasil é uma potência em nossa região. Todo ano a gente trabalha com a castanha para sustentar as nossas famílias. Ela traz os recursos para nosso sustento”, diz Jeremias Amotxo. Ele é presidente do Conselho Geral do Povo Hexkaryana (CGPH) e um dos responsáveis pela coleta de castanhas-do-brasil na região de Nhamundá, na divisa entre o norte do Pará e o Amazonas.
Este ano, 110 famílias de 13 aldeias da região se beneficiaram com a venda das castanhas-do-brasil, feita de modo sustentável. Cerca de 14 toneladas foram comercializadas pela Coopaflora, a cooperativa criada para organizar e apoiar os produtores nas vendas.
Além dos Hexkaryana, povo de Jeremias, são também parte da Coopaflora indígenas do povo Waiwai, quilombolas e assentados da região. Todos são representados na diretoria da cooperativa.
Produção prejudicada pela pandemia
Apesar da importância e fartas safras da castanha-do-Brasil na região de Nhamundá, neste ano de 2021, a produção foi impactada pela pandemia. “No ano passado a colheita foi boa, deu muito fruto. Neste ano quebrou um pouco. Por causa da pandemia não fomos pra cidade comprar os materiais para a coleta, os nossos instrumentos, sacas. Então não conseguimos colher muito. Acho que ano que vem vai ter mais de novo”, diz Jeremias.
O ciclo anual da produção da castanha tem história
A produção da castanha-do-brasil segue um ritmo anual que exige preparo meses antes. Jeremias conta que eles começam em fevereiro, quando colhem os frutos nos castanhais próximos às aldeias. O dinheiro que ganham é usado para comprar os materiais para as próximas etapas. É então que, logo depois das festividades de Páscoa, os homens das aldeias se reúnem com o cacique e se organizam para limpar os igarapés, caminhos para os castanhais.
A cerca de 20 quilômetros da aldeia mais próxima, ou 3 horas de canoa, eles montam um grande acampamento com casas de palha de ubim e, dias depois, quando tudo está pronto, voltam para buscar suas mulheres e filhos, afinal, todos vão ajudar no trabalho. “Mas tem o calendário escolar e a gente respeita. As crianças só vão quando estão de férias”, ressalta Jeremias.
As famílias ficam nos acampamentos de abril até junho, quando a safra da castanha acaba e já colheram tudo o que podiam. As castanhas são levadas aos poucos em canoas e barcos, e negociadas a preços que variam a depender da quantidade do que conseguirem.
A importância da produção da castanha vem desde os tempos dos avós de Jeremias, no início dos anos de 1980. Ele conta que o cenário melhorou muito depois que a Terra Indígena Nhamundá-Mapuera foi demarcada e homologada em 1989. Antes disso, muitos não indígenas entravam no território para coletar castanhas, excluindo alguns indígenas da cadeia produtiva ou pagando preços injustos.
Uma das metas dos Hexkaryana para o ano que vem é conseguir dinheiro suficiente para trocar o barco que eles têm para fazer os carregamentos. “O atual já tem 20 anos de uso e está ficando inseguro. Queremos um novo para continuar vendendo nossas castanhas”, diz Jeremias.
Confira no mapa as áreas de castanhais e as aldeias da região