Mulheres buscam fortalecer a Associação Sementes do Araguari

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Dando início à parceria com o Iepé, extrativistas do Amapá participaram de oficinas sobre produção sustentável, comunicação e contabilidade

Texto: Thaís Herrero | 21 de outubro de 2021

As mulheres extrativistas da região do Alto Rio Araguari estão, desde o final de setembro, com uma agenda cheia de atividades sobre fabricação de produtos advindos da floresta, sobre comunicação e contabilidade. Todos têm um objetivo comum: fortalecer a marca e a produção dos biocosméticos da Associação de Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari.


A associação foi criada em 2019 e hoje conta com 80 mulheres de 20 famílias unidas e beneficiadas por uma forma de produção que depende da preservação da natureza. Suas matérias-primas vêm da andiroba, copaíba e pracaxi da Floresta Nacional do Amapá e Floresta Estadual do Amapá e se transformam em sabonetes, pomadas e velas. Os produtos são vendidos principalmente em Porto Grande e em Macapá, em pontos como: a Casa Colab, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a sede do Iepé. Fora do Amapá, são vendidos em Curitiba. 

Neste segundo semestre, as mulheres da Sementes do Araguari passaram a contar com o apoio do Iepé para duas linhas de trabalho: a implementação da nova unidade de beneficiamento de processamento e produção e a capacitação para a reestruturação da marca. Para o Iepé, a parceria é importante para fomentar e dar visibilidade a uma economia baseada na floresta em pé e no respeito aos recursos naturais. 

Anos atrás, a principal fonte de renda das famílias da região do Alto Araguari vinha de um garimpo, que foi desativado em 2007, pois funcionava de forma irregular dentro da Floresta Nacional do Amapá. A produção sustentável surgiu como uma alternativa bem-vinda para famílias, somando-se à atual preocupação em relação aos danos causados pelo garimpo para a natureza, principalmente pela contaminação de rios e peixes e para a saúde da população.

Hoje, o principal sonho da associação é garantir uma melhor qualidade de vida para a comunidade por meio da geração de renda com atividades sustentáveis na região.  

Intercâmbio de saberes entre mulheres produtoras

De 13 a 15 setembro, as mulheres da Associação Sementes do Araguari, participaram do curso “Saúde integral e bem viver na Amazônia, plantas medicinais, fitoterápicos e terapias integrativas”, no Espaço de Formação para Jovens Agricultores de Comunidades Rurais Amazônicas (Ecrama), no município de Santa Luzia (PA). 

Elas aprenderam a produzir novos produtos, como xaropes a partir de extratos de plantas medicinais, cápsulas gelatinosas de plantas desidratadas, e ensinaram como fazem as embalagens dos seus sabonetes. Ou seja, foi um espaço também para trocas de conhecimentos de formulação de produtos e de experiências vividas. 

Produtos da Associação de Mulheres Extrativistas do Rio Araguari (AP). Foto: Acervo Sementes do Araguari

Arlete Pantoja e Érica Mota participaram como representantes da Sementes do Araguari e foram acompanhadas por Renata Ferreira e Thaís Marianne, do Programa Gestão Informação do Iepé.

A professora Terezinha dos Santos, que é pesquisadora de fitoterapia do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, ministrou o curso. Ela atua com projetos especialmente voltados a trabalhos com mulheres nas áreas de plantas medicinais, etnofarmacologia, tecnologia farmacêutica de fitoterápico, controle de qualidade de matéria-prima vegetal e saúde pública, orientando esses conhecimentos ao desenvolvimento socioeconômico de comunidades tradicionais.

Estiveram presentes mulheres da comunidade de Marudá, que produzem sabonetes, unguentos e xaropes com extratos vegetais, mulheres do Quilombo Pimenteira e do Movimento Negro CEDENPA de Irituia, que produzem sabonetes. “A troca de saberes mostra o quanto é importante a participação da comunidade nos intercâmbios de conhecimento”, contou Arlete.

Visitas a iniciativas comandadas por mulheres

Em 16 e 17 de setembro, as mulheres da Sementes do Araguari conheceram mais duas iniciativas comandadas por mulheres. Dia 16 a visita ocorreu na Ilha do Combú, onde conversaram com Dona Nena, que produz, de forma artesanal, um dos chocolates mais conhecidos no Brasil. Ela explicou como tudo começou, falou das dificuldades e da importância da natureza para o seu negócio. Dona Nena viu o potencial e com o cacau conseguiu gerar renda não só para si, mas para a comunidade. 

Durante o diálogo, a Dona Nena informou que montou recentemente uma associação de mulheres que estão começando a produzir sabonetes de andiroba. E falou muito contente sobre a possibilidade de um intercâmbio com as mulheres da Sementes do Araguari que já tem mais experiência na produção desses produtos.

Já a visita do dia 17 foi com o Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB), uma associação fundada há mais de 20 anos. Adriana, representante da Associação e uma das fundadoras, contou todo o histórico de desafios enfrentados pelo MMBI, mas como foi possível superá-los.

O MMIB desenvolveu, ao longo de 20 anos, muitos projetos voltados para melhorias na área de educação e economia local, trabalhando com turismo de base comunitária. Elas desenvolvem projetos para venda de matérias-primas para empresas, como a priprioca e a ucuuba, e também fazem biojóias.

Oficinas de comunicação e contabilidade

Em 30 de setembro e 1 de outubro, aconteceu o circuito de oficinas de comunicação e de movimentação de caixa e emissão de notas fiscais para as mulheres da Associação Sementes do Araguari. Foram as próprias mulheres que demandaram os temas, meses atrás, como fundamentais para o fortalecimento de seu negócio. O objetivo foi apresentar ferramentas e soluções para que as próprias associadas ganhem autonomia e interesse para divulgar seus produtos e serviços nas redes sociais.

Oficinas de comunicação e contabilidade. Foto: Acervo Sementes do Araguari

A oficina de comunicação foi apresentada pela jornalista Alessandra Lameira, que capacitou as mulheres sobre definição de identidade visual, gestão de redes sociais, construção de conteúdo e sobre a ferramenta Canva. A partir das ideias propostas de identidade visual foi possível definir a nova logo da associação que será desenvolvida por um profissional e apresentada para as associadas em breve.

A oficina de movimentação de caixa e emissão de notas fiscais foi apresentada pelo contador Gabriel Coutinho e direcionada para duas associadas que ficarão responsáveis pela movimentação financeira.

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