Família de extrativistas do rio Araguari é a primeira a receber o kit de energia solar

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Moradores da região não têm acesso à eletricidade e, graças a uma parceria entre Iepé e Pisco de Luz, agora contam com um kit solar para suprir as necessidades básicas de consumo

Texto: Maria Silveira | 24 de novembro de 2021

Meriaci Soares, ou Maroca, como é conhecida pela comunidade, está sem eletricidade há mais de um ano. “A gente nunca teve energia de linha e usamos gerador, mas vendemos ele porque não tivemos mais condições de comprar gasolina. Agora usamos a lamparina”, explica a extrativista, que mora em uma casa simples com sua família nas margens do Rio Araguari, município de Porto Grande, Amapá. 

O kit solar instalado na casa de Maroca é fruto de uma parceria entre o Iepé Instituto de Pesquisa e Formação Indígena e o Projeto Pisco de Luz, que busca levar dignidade e energia elétrica através de fontes renováveis e baixo custo de manutenção fazendo com que comunidades isoladas tenham acesso a energia. A iniciativa conta com o apoio da Fundação Rainforest da Noruega.

Agora, o telhado de Maroca e sua família conta com uma pequena placa fotovoltaica de 10W conectada a um circuito inteligente capaz de controlar até sete ambientes, uma bateria de lítio de 8W, cinco luminárias de LED e interruptores pelos cômodos. Com pelo menos de duas horas de sol, a bateria é carregada totalmente e fornece iluminação por até cinco noites.

Bateria de lítio 8w garante até 5 horas de bateria. Foto: Maria Silveira I Instituto Iepé

A região Norte do Brasil recebe apenas 1% do total de eletricidade gerado no país. E a relação histórica do Amapá com a energia sempre foi instável. Mesmo com quatro hidrelétricas, três delas a poucos quilômetros de distância da casa da dona Maroca, no Rio Araguari, o estado ainda tem diversas pessoas sem qualquer acesso a energia elétrica ou alternativa de geração para suas casas. 

Um estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) sobre a região amazônica mostra que quem está sem acesso à energia elétrica via Sistema Interligado Nacional (SIN) fica restrito a geradores a diesel ou a gasolina.

Alternativas de geração de energia limpa, renovável, como é o caso da energia solar, são mais saudáveis para o meio ambiente possuindo baixo custo de manutenção e maior estabilidade elétrica,  garantindo mais autonomia para os consumidores.

Projeto Pisco de Luz

O Pisco de Luz deu o pontapé inicial em uma comunidade quilombola na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O modelo de energia solar foi criado para ser de baixo custo e dar autonomia à comunidade durante a instalação e manutenção. A ideia do projeto pode ser facilmente replicada em outras comunidades isoladas que ainda vivem sem acesso à iluminação.

Família selecionada

Meriaci Soares foi selecionada por suas colegas da Associação de Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari, mora com seu marido, Benedito Souza, sua filha, genro e netos. São residentes há cinco anos na Floresta Estadual do Amapá (Flota), no limite com a Floresta Nacional do Amapá (Flona).

A expectativa da família com a instalação da placa solar é suprir necessidades básicas de consumo. Para Benedito, as lâmpadas e carregador USB já são uma grande ajuda para quem vive no escuro durante 24 horas por dia.

Maroca, extrativista que recebeu kit de energia solar em sua casa. Foto: Maria Silveira I Iepé

Tudo o que a  família consome é plantado e pescado no local, pois não é possível manter certos alimentos. Além disso, a água que vem direto do rio recebe o tratamento de hipoclorito de sódio. “Aqui a gente vive sossegado, o problema é a energia. Com a gasolina cara a gente acaba voltando pro remo”, diz Benedito.

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