Casa comunitária é inaugurada na Terra Indígena Rio Paru d’Este

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Para os Wayana e Aparai, a casa comunitária, tukusipan/porohtoh abriga os visitantes, além de servir como centro para reuniões e oficinas.

Texto: Maria Silveira I 02 de agosto de 2022

Tukusipan ou Porohtoh. (Foto: Nacip Mahmud/Instituto Iepé).

Para os povos Wayana e Aparai, ter uma casa comunitária é de suma importância para a vida social. Nela se efetuam cerimônias e rituais, se recebem e acolhem os visitantes e parceiros, se efetuam reuniões e oficinas. Para os Wayana essa casa é chamada de tukusipan e, para os Aparai, porohtoh.

Recentemente, a aldeia Jolokoman, situada na Terra Indígena Rio Paru d’Este, inaugurou a sua casa comunitária. A Associação dos Povos Indígenas Wayana Aparay (Apiwa) e o Instituto Iepé efetuaram e apoiaram a construção da nova tukusipan/porohtoh, na aldeia do cacique Pata Entu Sapotoli Wayana. Executada segundo os parâmetros tradicionais, esta casa empregou matérias primas específicas e foram necessários cerca de seis meses para sua conclusão.

Vista aérea da tukusipan, localizada na área central da aldeia. (Foto: Nacip Mahmud/Instituto Iepé).

Tukusipan/Porohtoh

Em uma aldeia, a casa comunitária ocupa lugar de destaque e possui uma estrutura característica que se diferencia das casas de moradia. É circular, com pilares de acariquara e a cobertura, semelhante a um domo, é feita com folhas de ubim. Trata-se de uma palmeira, encontrada dentro da floresta, cujas folhas passam por um processo de secagem para serem utilizadas e devem ser enroladas uma a uma, manualmente. A parte interna da cobertura da casa comunitária apresenta uma roda de teto, a maluwana/maruana que figura uma entidade supranatural.

“Se não tem tukusipan, não é bom. Temos que receber nossas visitas, que quando chegam podem ir direto para lá. Ela serve como local de hospedagem, reuniões e quebra galho”, explica Pata Entu Sapatori Wayana. (Foto: Nacip Mahmud/Instituto Iepé)

Novos roçados são feitos com um ano de antecedência para a produção de alimentos para o período da construção da casa comunitária, além de fornecer a matéria prima – a mandioca brava – para as bebidas fermentadas tradicionais: sakura e kachiri,  servidas nas cerimônias e rituais.

“Na vida cotidiana, a tukussipan/parohtopo constitui o lugar de convivência das pessoas de uma mesma aldeia, sendo, portanto, uma casa de uso comunitário. Assim, em seu interior são feitas refeições em conjunto e são distribuídas bebidas fermentadas; realizam-se reuniões, assembleias e, também, oficinas de valorização cultural. Esta construção se destina especialmente aos visitantes, que se alojam neste espaço quando estão de passagem. Constitui, ainda, e principalmente, em um espaço cerimonial/ritual onde ocorrem danças com máscaras e com flautas.” Fonte: ”Livro da Arte Gráfica Wayana e Aparai (2010)”.

Os povos indígenas

Os Aparai e os Wayana são povos de língua karib que habitam a região de fronteira entre Brasil, Suriname e Guiana Francesa. No Brasil, eles mantêm, há pelo menos cem anos, relações estreitas de convivência, coabitando as mesmas aldeias e se casando entre si. Por conseguinte, é muito comum encontrar referências a essa população como um único grupo, embora sua diferenciação seja reivindicada por eles. Leia mais em “Povos Karib-Guianenses do norte do Pará

Maruana: roda de teto com grafismos geralmente representando a história do povo. (Foto: Nacip Mahmud/Instituto Iepé)

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