Texto: Iepé

O Programa Tumucumaque-Wayamu está finalizando a construção e a instalação de dois bancos de sementes nas Terras Indígena Parque do Tumucumaque e Rio Paru d´Este. O objetivo da iniciativa é estimular o armazenamento para consumo e partilha, além da conservação da imensa biodiversidade vegetal da região, como estratégia de revitalização das trocas de sementes e variedades agrícolas bem como de enfrentamento às mudanças climáticas.

As sementes armazenadas serão de espécies florestais de interesse – como acapu, mogno e jatobá – e também de plantas alimentícias, como abóboras, feijões, melancias e limões. 

Construção de um dos bancos: diversidade vegetal como forma de se proteger do colapso climático (Foto: Siupanese)

A ideia de construir os bancos de sementes surgiu ainda em 2020, durante as oficinas sobre mudanças climáticas realizadas nas aldeias com apoio do Iepé. Em 2023 a proposta foi retomada nas Assembleias Gerais da APIWA (Associação dos Povos Indígenas Wayana e Apalai) e da APITIKATXI (Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikyana), quando foi definido quais aldeias sediariam cada um dos bancos de sementes, sendo escolhidas a Missão Tiiriyo (região oeste) e a aldeia Aramapuku (região leste). Essas aldeias foram indicadas para receberem os primeiros bancos de sementes por serem locais importantes da agrobiodiversidade indígena do Tumucumaque. 

“O fortalecimento das roças, das espécies e suas variedades agroalimentares é parte da luta das aldeias no enfrentamento às mudanças climáticas no território. As aldeias já vêm sofrendo com as perdas de roças por conta não só da intensidade das chuvas, mas também da mudança da época que elas ocorrem.”, afirma Nacip Mahmud, assessor indigenista do Programa Tumucumaque-Wayamu. “O banco de sementes será um local de preservação das variedades das plantas alimentares, revitalizando e estimulando as trocas de sementes entre as aldeias”.

Participantes das atividades em Aramapuku (Foto: Nacip Mahmud)

Atividades para a construção dos bancos de sementes

A construção desses dois bancos de sementes durou  cerca de dois meses, entre maio e junho. Sendo um deles localizado na porção Leste da TI Parque do Tumucumaque e o outro na porção Oeste. A comunidade da porção Leste da TI achou por bem que o banco de sementes fosse instalado na aldeia Aramapuku, às margens do rio Paru D’Este, onde o engajamento local nas roças é referência. 

Da retirada de tábuas e esteios até o transporte e a própria construção da casa em si, diversas pessoas da comunidade se mobilizaram para trabalhar em conjunto ao longo de várias semanas na aldeia Aramapuku.

Já na porção Oeste, a comunidade decidiu que o banco de sementes poderia ser instalado aproveitando parte da estrutura do antigo barracão de olaria da aldeia Missão. Exigindo apenas uma pequena reforma estrutural, a instalação do banco de sementes ali ajudará a revitalizar o local, contribuindo com uma ressignificação do espaço, abandonado há muitos anos. 

Os bancos estão sendo criados coletivamente: desde a concepção em Assembleia até a construção em si (Foto: Pirituapo Ismael Apalai)

A reforma de uma das salas do antigo barracão da olaria também contou com um momento de engajamento coletivo: pouco mais de 30 jovens de diversas aldeias da região Oeste participaram de um mutirão de limpeza do local. Foram retirados dezenas de quilos de entulhos e lixo acumulados no local, além de roçagem, podas de árvores e limpeza do entorno do barracão.

Com a colaboração de indígenas e do missionário Frei Ângelo, da Fraternidade São Francisco de Assis, foram realizadas as instalações hidráulicas, a remoção de madeiramento podre, o combate aos cupinzeiros e a instalação do forro de madeira e da pia na sala que abrigará o banco de sementes.

Parte superior do barracão, já limpo e com as tábuas extraídas para a reforma (Foto: João Covolan)

Apoios: Projeto Terrindígena e Nia Tero

A construção dos bancos de sementes faz parte de uma das ações previstas no projeto Terrindígena, financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e pelo Fundo Francês para o Meio Ambiente (FFEM), e está inserida no eixo de “Manejo e uso sustentável dos recursos naturais/alimentares”, que é um dos eixos temáticos do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das TIs Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este. Os custos logísticos dessas atividades foram garantidos pela Nia Tero, parceira dos povos do Tumucumaque e do Iepé, no apoio ao processo mais amplo de implementação deste PGTA.