Praga mata plantações de mandioca nas terras indígenas do Oiapoque

data

O Governo do Amapá decreta situação de emergência nas três terras indígenas de Oiapoque. Entenda a crise.

Texto: Rita Lewkowicz e Maria Silveira

Plantação de mandioca nas terras indígenas de Oiapoque. Foto: Vinicius Benvegnu/ Instituto Iepé

As Terras Indígenas Uaçá, Galibi e Juminã estão situadas no município de Oiapoque (AP), onde vivem os povos indígenas Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali’na e Palikur. O Governo do Amapá decretou a situação de emergência nas Terras Indígenas no dia 21 de julho, com base em estudos da Embrapa que comprovam a contaminação.

Marinelson dos Santos é Agente Socioambiental Indígena (Agamin). Ele mora na aldeia Açaizal e relatou sobre a perda das suas plantações. “Faço minha roça, os pés de mandioca começam a crescer bonitos e fortes. Quando volto um tempo depois, toda a plantação foi perdida”, explica Marinelson. 

Mudanças climáticas

Um dos impactos das mudanças climáticas chegou nas aldeias de Oiapoque através de fungos e bactérias nas plantações. O excesso de chuvas no período de abertura dos plantios tradicionais no sistema coivara – técnica agrícola que envolve a queima da roça – fizeram com que algumas famílias não conseguissem abrir novas roças, assim como outras roças não queimassem direito. 

A umidade, ligada ao aumento da temperatura, o desgaste do solo e outras variáveis, levou à proliferação de pragas. De acordo com pesquisa da Embrapa Amapá, análises em laboratório confirmaram a presença de três espécies de fungos nas amostras de plantas, de manivas-sementes e da mandioca. Os pés de mandioca começam a secar e as raízes apodrecem antes de amadurecer. Em outros casos, ocorre um superbrotamento das folhas, impedindo o desenvolvimento da planta. Essas doenças provavelmente vêm sendo disseminadas por insetos que atuam como vetores.

Superbrotamendo das folhas da maniva. Foto: Luene Karipuna/ Instituto Iepé

Situação de emergência

Com a crise relacionada ao desabastecimento dos subprodutos da mandioca como a farinha, a insegurança alimentar é uma realidade na região. Além disso, a comercialização da farinha de mandioca e seus derivados é uma das principais atividades econômicas dos povos indígenas e costumava abastecer integralmente o município de Oiapoque.

Mais de 30 variedades de mandioca foram identificadas a partir de um levantamento dos pesquisadores indígenas do museu Kuahí. A sabedoria relacionada aos sistemas agrícolas tradicionais fica ameaçada diante da crise em que as roças se encontram. As variedades de mandioca e outras plantas, as formas e cuidados no plantio, as relações cosmológicas entre as plantas e os conhecimentos sobre os períodos das chuvas associados às constelações também estão sob risco. A introdução de variedades de mandioca mais resistentes parece ser uma alternativa, ainda que a perda das variedades locais possa ser irreversível. Não há previsão de quando a situação irá ser normalizada.

Raiz da mandioca em estado de apodrecimento. Foto: Ana Carolina Yamguchi/ Instituto Iepé.

Para enfrentar o problema, são necessárias diferentes estratégias, de curto, médio e longo prazo: distribuição emergencial de cestas básicas, contratação de agentes ambientais para atuarem nas aldeias, assessoria técnica e um banco para a preservação das sementes nativas, recuperação das áreas degradadas são apenas algumas das prioridades desenhadas até o momento. As iniciativas para combater a crise estão sendo apoiadas e acompanhadas por mais de 100 lideranças dos povos Karipuna, Palikur, Galibi Marworno e Galibi Kali’na, Instituto Iepé, Embrapa (AP), Funai, Rurap, Conab, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e pela Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi).

Mais
notícias