Texto: Luiza Nobre
Ocupando um papel importante na economia da Amazônia, a produção de mel nativo, artesanato, pimenta, e as cadeias produtivas do extrativismo como, castanha do brasil, copaíba e cumaru são exemplos do resultado positivo da valorização do conhecimento tradicional alinhado ao mercado ético e corporativismo na região norte no Brasil.
Em sua 4ª edição, o Encontro de Governança da rede Origens Brasil reuniu, entre os dias 20 e 21 de setembro, em Alter do Chão (PA), representantes de empresas, instituições de apoio, produtores indígenas, quilombolas e ribeirinhos para trocas, diálogos e parcerias. Com o tema “A Amazônia viva é o melhor negócio”, o evento promoveu reflexões sobre sociobiodiversidade, bioeconomia e o impacto positivo no combate às pressões e ameaças aos territórios tradicionais através do comércio ético e justo.
Durante a feira de trocas Moitará, os representantes das organizações indígenas em parceria com a Coopaflora puderam expor seus produtos e firmar novas parcerias comerciais. Também aconteceu nesta oportunidade, o pré lançamento da Wanë Beer Tapajós, a primeira cerveja brasileira que leva mel indígena na composição. A criação é uma parceria entre a cervejaria Tapajós e a Associação dos Povos Tiriyó, Kaxuyana e Tunayana (Apitikatxi). Estiveram em exposição e à venda produtos como o mel Wanë, o mel Ano Zeni, artesanatos e pimentas, feitos pelos povos Wayana, Apalai Katxuyana e Tiriyó, das aldeias Santo Antônio e Bona, localizadas no parque do Tumucumaque.
O manejo do mel é uma tradição entre as comunidades do Parque do Tumucumaque desde 1980, sendo muito utilizada na medicina tradicional e na alimentação de crianças e idosos. No lado Oeste da Terra Indígena , destaca-se o cultivo das melíferas (abelha com ferrão), no lado Leste, a meliponicultura (abelha nativa sem ferrão) é mais comum. Além da diferença no sabor, os méis se distinguem na coloração e textura, sendo o Wanë mais claro e líquido, e o Ano Zeni mais escuro e denso. Isso se dá pela diversidade na floração da região.
“Amazônia viva é o melhor negócio”
Estima-se que cerca de 13 mil pessoas, entre as 44 áreas protegidas associadas ao Origens Brasil, sejam beneficiadas pela comercialização de produtos da sociobiodiversidade. “Ainda é um número pequeno dentro do potencial da economia da floresta em pé que podemos viabilizar. Há muito a ser feito”, pontuou Patrícia Gomes, gestora e articuladora da rede Origens Brasil, na fala de abertura do evento.
Fundada em 2016, a rede Origens Brasil é uma rede de instituições de apoio, produtores e empresas que têm promovido negócios sustentáveis nos principais corredores de áreas protegidas na Amazônia, garantindo transparência e o comércio ético para produção local, além de assegurar a origem e comercialização dos produtos, conectando demandas de mercado através de um sistema de rastreabilidade.
“Antes a gente não tinha contato com as cooperativas. Foi só ano passado, quando percebemos que nossos produtos estavam sendo desvalorizados, os mesmos produtos que são de grande valor no nosso território, como a copaíba e o cumaru. Agora, com as oficinas e a ajuda de parceiros como o Iepé, estamos capacitando a comunidade, diminuindo a comercialização para os atravessadores e focando na identificação de origem dos produtos para saber que território produziu”, pontuou Léo Kaxuyana, membro da da Associação Indígena AIKATUK.
Entre os tópicos mais debatidos nas plenárias do encontro, os desafios e soluções para elevar o valor agregado dos produtos foi uma das principais demandas dos produtores junto às instituições parceiras e empresas. Além de discutir o papel da comercialização ética dos produtos através de parcerias que possam valorizar o trabalho e a produção dos territórios, especialmente pelo impacto no valor final do produto.
A castanha também é um dos produtos de destaque. De acordo com a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), entre 2021 e 2022, mais de 840 mil reais foram comercializados com a somatória de duas espécies de castanha, gerando renda para indígenas e quilombolas.
“Esse encontro foi muito importante para nós, uma oportunidade para divulgar nossos produtos, tanto do Leste, quanto do Oeste do Parque do Tumucumaque. É importante que, dentro da sociedade, seja reconhecido que os povos Wayana-Apalai existem”, destacou Cecília Apalai, integrante da diretoria da APIWA.
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Wanë: o livro do mel