Guardiões do clima: povos indígenas presentes na agenda climática do Amapá

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De 11 a 13 de dezembro de 2024, dois eventos realizados em Macapá destacaram o protagonismo dos povos indígenas nas discussões sobre mudanças climáticas. Confira os detalhes:

Texto: Maria Silveira e Hiandra Pedroso

27ª Reunião do Fórum Amapaense de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

27ª Reunião do Fórum Amapaense de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais (FAMCSA) foi realizada nos dias 11 e 12 de dezembro no auditório da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, reunindo representantes indígenas das regiões do Oiapoque, Wajãpi e Complexo do Tumucumaque.

Os debates abordaram a trajetória da política ambiental no estado do Amapá, com foco na implementação da Política Estadual de Mudanças Climáticas e Incentivo à Conservação dos Serviços Ambientais (PECISA) e a garantia da participação dos povos indígenas e comunidades tradicionais nesse processo.

Para Viseni Waiãpi, do Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina), é necessário fortalecer o Fórum para garantir a participação efetiva dos povos indígenas nas discussões sobre o meio ambiente: “Nós povos indígenas precisamos de capacitação e oportunidades para que nosso povo possa contribuir ativamente com a proteção da floresta e com o desenvolvimento de políticas públicas eficazes”, aponta Viseni.

Povos indígenas das regiões do Oiapoque, Wajãpi e Complexo Tumucumaque presentes para discutir mudanças climáticas. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), o Fórum está trabalhando na criação de programas de formação e orientação em parceria com a Secretaria de Educação, com o objetivo de capacitar as comunidades tradicionais sobre as temáticas ambientais.

A discussão também destacou o potencial da PECISA na promoção da conservação ambiental, desenvolvimento sustentável e enfrentamento das mudanças climáticas. Além disso, os participantes analisaram o Plano de Engajamento da Política de REDD+, que busca otimizar recursos e garantir a participação efetiva de todos os envolvidos.

Mesa de debate no “Encontros Amazônicos Pré-COP30”

Durante os Encontros Amazônicos Pré-COP30, realizados no Museu Sacaca, em Macapá, ocorreu a mesa de debate “Encontro com os povos tradicionais amazônicos” com representantes indígenas da Guiana Francesa e do Brasil. Ambos os países discutiram questões relacionadas às mudanças climáticas, destacando impactos como alagamentos e pragas nas roças.

Participantes da mesa “Encontro com os povos tradicionais amazônicos”. (Foto: Hiandra Pedroso)

Em outro momento do encontro, no Tribunal dos Direitos da Natureza foi um espaço dedicado a denunciar crimes ambientais e discutir soluções para a crise climática na Amazônia

Representando a Articulação dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp), Demétrio Tiriyó falou sobre a luta contra as mudanças climáticas. “No Brasil, nosso direito sempre foi ameaçado e, mesmo assim, os povos indígenas estão lutando. Nós somos seres humanos igual ao não indígena, temos sangue e sentimentos. Para o equilíbrio do mundo, não basta apenas a luta dos povos indígenas, precisamos lutar juntos”, argumenta Demétrio.

O debate também abordou desafios relacionados a grandes empreendimentos, como a exploração de minério e petróleo, bem como as diferenças no reconhecimento dos direitos indígenas entre o Brasil e a Guiana Francesa. Foi ressaltada a importância da Consulta Prévia, como previsto pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), nos processos de implementação de projetos de grande impacto.

Um intercâmbio entre Brasil e Guiana Francesa no debate sobre mudanças climáticas. (Foto: Maria Silveira)

Os representantes da Guiana Francesa compartilharam suas experiências de resistência contra a exploração mineral e petrolífera, reforçando a importância da mobilização social e do engajamento político. A exploração de petróleo na foz do Amazonas foi outro ponto central, o que aponta a necessidade de priorizar consultas às comunidades afetadas. 

“Como podemos falar sobre esse assunto se os governantes querem levar grandes empreendimentos para dentro da nossa Amazônia? Nós temos o direito de consulta e queremos estar presentes pelos povos do Amapá e norte do Pará. Nós não precisamos de exploração de combustíveis fósseis”, relata Mara Karipuna também da Apoianp.

Outro ponto das discussões, foi o papel da juventude indígena na luta climática e sua presença em espaços de decisão política, como as Conferências das Partes (COPs).

Essas atividades fizeram parte do projeto “Projeto Amapá: Política de Mudanças Climáticas e Povos Indígenas”, uma iniciativa do Iepé com o apoio do Environmental Defense Fund (EDF), para fortalecer a participação indígena em políticas climáticas, trazendo sua voz e experiência para o centro do debate.

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