Entre os dias 13 e 22 de outubro, Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) de aldeias localizadas em três regiões da Terra Indígena Uaçá participaram de oficinas sobre os fatores de risco e medidas de prevenção à COVID-19. As atividades envolveram AIS e AISAN das aldeias Kumarumã, Flamã, Manaú e Aruatu (Rio Uaçá), aldeias Kumenê, Puwaytyket, Urubu, Kamuywá, Mangue, Amoni, Twary (Rio Urukawá) e aldeias Santa Izabel, Espírito Santo, Açaizal, Taminã, Txipidõ, Pakapuá, Jõdef (do médio Rio Curipi). Em cada uma das regiões citadas acima, as oficinas foram realizadas durante três dias, com carga horária de 30 horas e, no total, 34 participantes. A ação foi conduzida por Murilo Leandro Marcos (médico de família e consultor do Iepé) e Juliana Licio (nutricionista e assessora indigenista do Programa Oiapoque – Iepé), em parceria com o Dsei do Amapá e norte do Pará, dando continuidade à implementação do Plano de enfrentamento a Covid-19 na região. A primeira etapa deste Plano, realizada entre junho e agosto deste ano, foi a instalação das Unidades de Atenção Primária Indígena – UAPIs e o treinamento feito junto aos enfermeiros e médicos.
Temas complementares sobre saúde e alimentação foram discutidos
Inicialmente houve um momento para que todos os profissionais de saúde envolvidos fossem ouvidos e pudessem relatar sobre os pontos positivos e negativos de seus respectivos trabalhos em suas comunidades.
Durante as oficinas foram explicadas como surgem as principais doenças crônicas não transmissíveis, que hoje são a maior causa de adoecimento nas terras indígenas do Oiapoque: Diabetes mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), associando o aumento da prevalência destas doenças na população indígena às mudanças dos hábitos de vida e à transição alimentar. A importância do consumo de produtos in natura, pouco processados e produzidos nas comunidades foi destacada como importante para se prevenção destas doenças. Por outro lado, através de comparações entre os alimentos, os participantes puderam compreender que o elevado consumo de alimentos processados e ultraprocessados leva ao maior consumo de açúcar, sal e gordura.
Foi possível refletir junto aos participantes sobre os efeitos nocivos do consumo de alimentos ultraprocessados e comprados na cidade, com destaque aos refrigerantes, doces, embutidos e enlatados. Também foram ouvidos os relatos destes profissionais de saúde sobre a importância da medicina tradicional e dos remédios caseiros, utilizados de maneira complementar ao tratamento das doenças. No final, os participantes puderam compreender que essas doenças podem agravar a infecção pela COVID-19, sendo portanto fatores de risco que diminuem a expectativa de vida dos povos indígenas.
Os participantes também trouxeram reflexões importantes sobre a qualidade da água consumida nas aldeias e a incidência de doenças infecciosas, destacando os desafios existentes à distribuição de água potável nas comunidades.
Como avaliar a gravidade da COVID-19: treinamento sobre os sinais vitais
Além de explicar como surgiu e se dá a transmissão da COVID-19, também foram discutidos os principais fatores de risco para o surgimento dos casos mais graves da doença. Houve treinamento para aferição de pressão arterial, glicemia, frequência cardíaca e frequência respiratória. O conhecimento e a correta aferição dos sinais vitais pelos AIS é uma ferramenta fundamental para identificação de situações de emergência, que necessitarão de maior atenção pela equipe multidisciplinar de saúde indígena.
As oficinas fazem parte das ações que integram o Plano Emergencial do Iepé de enfrentamento à COVID-19 na região do Amapá e norte do Pará, que vem sendo implementado em parceria com o DSEI Amapá e Norte do Pará, CR Macapá da Funai, Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque – CCPIO, organizações indígenas da região, Expedicionários da Saúde, com apoio da Embaixada da França, Embaixada da Noruega e Rainforest Foundation Norway.