Iepé lança o livro Eremi’u rupa. Abrindo roças

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O livro Eremi’u rupa. Abrindo roças foi lançado pelo Iepé e trata das concepções e práticas do povo indígena Zo’é em relação às suas roças

Texto: Iepé | 22 de julho de 2021

Eremi’u rupa, “lugar de minha comida”, é como o povo Zo´é se refere a uma aldeia onde há uma bela roça repleta de mandioca. A existência de roçados é uma exigência para se definir o que é uma “verdadeira aldeia”. É por isso que a expressão dá nome ao novo livro do Iepé: Eremi’u rupa. Abrindo roças.

Capa do livro eremiu rupa
Capa do novo livro Eremi’u rupa. Abrindo roças

Lançado no mês de julho em parceria com a Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema (FPEC/Funai), o livro está centrado nas concepções e práticas das e dos Zo’é relativas às suas roças, destacando a importância da diversidade vegetal em seus modos de vida e como a ocupação do território implica na promoção dessa diversidade. 

Esse é  o segundo volume da série Saberes Zo’é e , tal como o primeiro livro, Potuwa pora kõ. O que se guarda no potuwa, visa valorizar os conhecimentos desse povo e, ao mesmo tempo, fortalecer o Fundo de Artesanato Zo’é (FAZ). Confira um trecho do livro no final da página.

Com experiência de pesquisa e trabalho com as e os Zo’é há quase dez anos, Leonardo Viana Braga é o autor e organizador de Eremi’u rupa. Seguindo o projeto gráfico da série, o livro tem formato de bolso e 189 páginas fartamente ilustradas. Conta com imagens produzidas por Dani Eizirik e desenhos dos próprios Zo’é: Tebo, Toapa e Meretem. 

Destacam-se também os textos feitos pelos Zo’é em sua própria língua. Elaborados por Kubi’euhu, Supi, Riru, Awapo’í, Mima e Tereren, eles foram encomendados por Braga e podem ser considerados alguns dos primeiros escritos desses jovens, que vêm sendo letrados mediante processo de formação promovido pelo Iepé.

Mandioqueira e suas partes. (Desenho: Dani Eizirik)

Abrindo roças: a importância do apoio à mobilidade territorial

Se o primeiro volume da série focou no modo como a produção e uso das flechas estão relacionados aos movimentos das famílias zo’é por sua Terra Indígena, nesse segundo número a importância da mobilidade territorial é novamente explorada. O fio condutor da narrativa são as concepções e práticas relativas às roças. O autor convida as leitoras e os leitores a abrir o livro tal como se presenciassem a abertura de uma roça zo’é, acompanhado-se o ciclo florestal daí decorrente.

O gosto desse povo pela diversidade é revelado em sua descrição dos próprios cultivares, cuja gama não expressa apenas uma variedade de espécies vegetais, mas também uma multiplicidade de relações construídas com outros povos indígenas e com não indígenas ao longo da história das e dos Zo’é.

Hoje, a FPEC e o Iepé vêm apoiando a dispersão territorial, algo extremamente desejado pelas e pelos Zo’é. Isso  garante a manutenção de sua soberania alimentar, além de contribuir com a qualidade nas relações entre as famílias e com a vigilância de sua Terra. Uma das consequências da dispersão é, como afirma Braga, uma “proliferação de roças”, uma vez que a abertura de “verdadeiras aldeias” pelo território nos últimos anos tem crescido exponencialmente. 

O livro revela como podemos conhecer as consequências posi­tivas do manejo da floresta realizado pelas e pelos Zo’é e por outros povos indígenas e não indígenas. Visa-se divulgar o modo como contribuem para o enriquecimento da agrobiodiversidade e da diversidade florestal, permitindo que quebremos preconceitos relativos aos modos de vida desses povos e, assim, possamos apoiar suas iniciativas.

Derrubada. (Desenho: Dani Eizirik)

Buscando alternativas para fortalecer o Fundo de Artesanato Zo’é

O fortalecimento do Fundo de Artesanato Zo’é (FAZ) é uma das diretrizes mais importantes do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Zo’é, publicado em 2019. Através desse fundo, a FPEC vem ajudando a comunidade a comercializar alguns objetos e adornos de seu cotidiano, peças de cestaria, trançados, cerâmica, tipoias de algodão, colheres e pulseiras.

A renda gerada assegura maior autonomia na aquisição de facas, machados, terçados, anzóis, arames e linhas de pesca, lanternas, pentes e linhas de algodão, objetos incorporados ao modo de vida das e dos Zo’é há várias décadas.

Desde o início da pandemia de Covid-19, foi criada uma barreira sanitária próxima à Terra Indígena Zo’é, que teve grande sucesso, pois nenhum caso de infecção foi registrado e a imunização em duas doses já foi realizada. Porém, a disseminação do novo coronavírus prejudicou as vendas do fundo ao longo de 2020 e 2021, e com o lançamento de mais esse livro buscamos contribuir com o FAZ.  

Como adquirir seu livro:
Seu exemplar pode ser solicitado pelo e-mail [email protected] e recebido pelo correio mediante contribuição de R$ 40. O valor é integralmente revertido para o Fundo de Artesanato Zo’é (FAZ), cuja gestão é realizada pela FPEC com a participação de toda a comunidade zo’é. O valor do frete de envio é coberto pelo Iepé.

Confira um trecho do livro:

(Foto do topo: Jiapara kujã torrando farinha de mandioca, na Aldeia Parakesina. Foto: Leonardo Viana Braga/Iepé)

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