Texto: Maria Silveira | 23 de maio de 2022
“Esse foi mais um passo para a nossa comunidade. É a primeira vez no Araguari que estamos saindo da lamparina para uma energia limpa. É uma vitória!”, declara Arlete Leal, presidente da Associação de Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari.
A instalação de kits de energia solar nas casas de ribeirinhas do alto Araguari, no estado do Amapá, foi uma parceria do Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena e o Projeto Pisco de Luz que levou energia elétrica através de uma fonte renovável. A iniciativa contou com o apoio da Fundação Rainforest da Noruega.
As famílias beneficiadas pela iniciativa são de baixa renda. Uma solução para ter eletricidade é o gerador movido a combustível, porém, com o alto custo da gasolina e da máquina, tem sido impossível mantê-lo. “A gente não pode mais usar gerador como antigamente, a gasolina está muito cara”, relatou Sueli Pantoja.
Para evitar ficar no escuro total, muitas famílias utilizam lamparinas a querosene para iluminação noturna. Esse combustível é prejudicial à saúde e pode trazer o risco de incêndios, principalmente em casas de madeira, que são a maioria na região.
O estado do Amapá tem grande histórico de falta de eletricidade. Em municípios onde há o abastecimento, é comum a falta de energia e há comunidades isoladas onde não há sequer fornecimento. Mesmo com três hidrelétricas a poucos quilômetros das casas das ribeirinhas, a energia não chega nas margens do rio Araguari. As placas solares trazem maior estabilidade elétrica e segurança para essas famílias.
Projeto Pisco de Luz
As placas solares trazem maior estabilidade elétrica e segurança para essas famílias e é esse o objetivo do projeto Pisco de Luz. Eles levam dignidade e conforto a pessoas sem acesso a energia elétrica a partir de um modelo de energia solar de baixo custo. Para ganhar autonomia, os moradores do Araguari aprenderam com os voluntários do projeto como fazer a instalação e manutenção do kit.
Para Alex Cirqueira, voluntário da Pisco de Luz, o projeto vai ajudar as pessoas que moram às margens do rio: “Diferente da lamparina, que por conta da poluição da fumaça faz mal à saúde, as placas solares produzem uma energia limpa e renovável”.
O kit de energia solar é composto por uma pequena placa fotovoltaica de 10W conectada a um circuito inteligente capaz de controlar até sete ambientes, uma bateria de lítio de 8W, cinco luminárias de LED e interruptores distribuídos pelos cômodos das casas. Com pelo menos de duas horas de sol, a bateria é carregada totalmente e fornece iluminação por até cinco noites.
Meriaci Soares, a Maroca, foi a primeira da associação a receber o kit solar, em outubro do ano passado. Meses depois, ela destaca a grande mudança na vida dela e de sua família. “A gente vivia no escuro, era difícil fazer as coisas, a gente tinha medo. Mas, hoje eu estou feliz demais, nos acostumamos com a luz”, diz a extrativista.
Sementes do Araguari
A Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari é formada por famílias da região, no município de Porto Grande, e produz cosméticos, como sabonetes e unguentos, a partir dos produtos da floresta e conhecimentos tradicionais. Anos atrás, algumas das famílias trabalhavam para o garimpo, mas hoje, estão ligadas a uma economia que tem como foco manter a floresta em pé. Leia mais sobre a associação.