Embora o Programa Zo’é tenha sido criado em 2016, a atuação de membros fundadores do Iepé junto a este povo teve início ainda na década de 1990, quando foram realizados alguns estudos antropológicos na região, especialmente os trabalhos visando a demarcação da Terra Indígena Zo’é, concluída em 2000 com 668.000 hectares e homologada no ano 2009, no município de Óbidos, no Pará.
Contactados por integrantes da Missão Novas Tribos em 1987 e assistidos em exclusividade pela Funai desde 1991, os índios Zo’é foram apresentados ao mundo em inúmeras reportagens que os descreveram como um dos últimos povos “intactos” na floresta amazônica. De fato, nesse período, as ações do órgão indigenista visavam manter esse povo em seu isolamento, afastados das relações com os não-índios, seus objetos e modos de vida.
Porém, o interesse dos Zo’é pelas “coisas dos brancos” crescia ano a ano, gerando tensões. Essa demanda os levou para fora de seu território demarcado no final da década de 2000, quando entraram em contato com famílias Tiriyó, ao norte, e com castanheiros e fazendeiros vizinhos do limite sul da TI, contraindo doenças que degradaram sua situação de saúde. Foi nesse contexto que se impôs, na Funai, a revisão do modelo de isolamento vigente e a necessidade de preparar os Zo’é para um contato mais equilibrado e autônomo com segmentos da sociedade brasileira, para que possam defender eles mesmos os seus direitos e interesses. Foi nesse momento que o Iepé iniciou suas atividades junto aos Zo’é, em colaboração estreita com a Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema – FPE CPM.
Iniciamos com levantamentos participativos das formas de ocupação e gestão do território, cujos resultados eram discutidos por membros de todos os grupos locais, para avaliar e planejar o futuro. Esse trabalho resultou no Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Zo’é, um dos primeiros construídos com um povo de recente contato, publicado em 2019. Desde então, demos continuidade ao trabalho de formação, através de encontros de letramento, de oficinas nas aldeias e da produção materiais didáticos, promovendo a apropriação da escrita na língua Zo’é.
O Programa Zo’é também investe em várias ações de proteção do território, apoiando as iniciativas de vigilância dos Zo’é, através da circulação das famílias pelo território e a construção de novas aldeias; também apoiamos as expedições conduzidas pela FPE CPM para fiscalizar os limites da Terra Indígena.
Além disso, o Iepé contribui com a estruturação de um Fundo de Artesanato Zo’é (FAZ), uma iniciativa que busca valorizar os conhecimentos zo’é, além de propiciar a geração de uma pequena renda, gerida coletivamente, para aquisição de mercadorias industrializadas como ferramentas, insumos para pesca e alguns outros bens incorporados ao seu cotidiano.